Negociações bilaterais podem reabrir caminho para impunidade de ex-aliados de Bolsonaro e redefinir relação Brasil-EUA

Nesta quarta-feira (3/12), a embaixada dos Estados Unidos no Brasil tornou pública uma mensagem do presidente Donald Trump, relatando uma conversa com Lula durante reunião na ONU. No comunicado, Trump classificou o diálogo como “muito produtivo” e destacou que vários temas centrais — tarifas, segurança e cooperação contra o crime organizado — estão em discussão, inclusive a possível retirada das sanções impostas a autoridades brasileiras.

Entre os pontos debatidos, a remoção das sanções a magistrados do Supremo Tribunal Federal (STF) aparece como prioridade na mesa de negociações entre Washington e Brasília. A perspectiva de anistia para figuras consideradas “golpistas” e procuradas internacionalmente reacende temores sobre um pacto de impunidade com respaldo externo.

Sanções, interesses geopolíticos e jogo de cena

O contexto da negociação revela que, para Trump e setores da extrema-direita nos EUA, a aplicação da lei sancionatória internacional (como a “Lei Magnitsky”) contra autoridades brasileiras foi construída como retaliação política — e não como defesa de direitos humanos. Para esses grupos, as sanções representavam um instrumento de pressão ideológica e diplomática.

Com o realinhamento diplomático em curso, a devolução de privilégios pode vir acompanhada de um silêncio cúmplice sobre crimes da golpista base bolsonarista — uma tentativa de apagar rastros e blindar quem fugiu para o exterior. A urgência com que aliados de Trump celebram o anúncio deixa claro o que está em jogo: a reescrita do regime de exceção contra a elite política brasileira.

Reações em Brasília e tremores na sociedade

Nas redes sociais, correligionários da extrema-direita comemoraram a notícia. Mensagens públicas expressaram “confiança na capacidade de negociação do presidente Trump” e esperança de que a retórica dura contra o STF e contra os processos judiciais venha a se desfazer.

Enquanto isso, ativistas, juristas e setores progressistas enxergam nesse movimento uma virada perigosa: a possibilidade de um salvo-conduto internacional para aqueles condenados ou investigados por tentativa de golpe, atos antidemocráticos ou crimes de lesão à democracia. Este seria um pacto de impunidade negociado fora dos tribunais — com efeitos profundos sobre a soberania nacional e a memória de vítimas da onda de crimes.

O que está em jogo

Se as conversas resultarem na revogação de sanções, teremos não apenas um gesto diplomático — mas a demonstração cabal de quem realmente manda nas decisões sobre justiça no Brasil: não o povo, nem o Judiciário, mas interesses externos alinhados à velha farra das elites.

Para nós, que lutamos por justiça social, soberania e memória histórica, o alerta é claro: o Brasil não pode aceitar que justiça e direitos humanos sejam moeda de barganha. Defender a memória dos que resistiram ao autoritarismo e garantir punição para os que conspiraram contra a democracia exige denúncia clara, mobilização popular e vigilância permanente.

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