Ex-embaixador afirma que Trump descartou ex-presidente brasileiro após derrota, prisão e perda de protagonismo político

A relação entre o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro (PL) perdeu força após Bolsonaro perder as eleições, ser condenado e preso, segundo avaliação do diplomata norte-americano John Feeley, ex-embaixador dos EUA no Panamá. Em entrevista à BBC News Brasil, Feeley disse que Trump “não tolera perdedores” e passou a considerar Bolsonaro um aliado “descartável” após esses acontecimentos.

Para o ex-embaixador, a relação entre Washington e Brasília durante os governos Trump e Bolsonaro nunca foi sustentada por uma estratégia geopolítica duradoura, mas por afinidades circunstanciais. “Assim que Bolsonaro deixou de ser uma referência na política brasileira e o Estado de Direito e a justiça democrática prevaleceram no Brasil, Donald Trump simplesmente o descartou”, afirmou Feeley, destacando que Trump teria descartado Bolsonaro assim que este deixou de exercer protagonismo político.

Percepção de Trump e diplomacia em crise

Segundo Feeley, Trump enxergou Bolsonaro como um aliado apenas enquanto havia ganhos políticos e estratégicos imediatos para sua própria agenda, e não por um alinhamento profundo com o Brasil como país ou com suas instituições. Na avaliação do diplomata, o interesse do presidente americano pelo Brasil sempre foi limitado, e sua atenção estaria mais voltada para questões internas dos EUA do que para a política externa brasileira.

O diplomata também criticou a forma como Trump conduziu as tensões entre os dois países, especialmente no episódio que ficou conhecido como a crise diplomática Brasil-Estados Unidos de 2025, provocada por tarifas elevadas e sanções a autoridades brasileiras durante o julgamento de Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado — medidas que foram posteriormente revertidas.

Sanções e reversões

Entre as ações que marcaram o conturbado relacionamento diplomático entre os dois países em 2025 estiveram a imposição de tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros e a inclusão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, na lista de sanções dos EUA sob a Lei Magnitsky — movimentos que geraram forte desconforto no governo brasileiro e foram alvo de críticas no cenário internacional.

Feeley afirmou que essas medidas não teriam sido resultado de uma linha de política externa coerente, mas sim de pressões de lobistas e aliados de Bolsonaro em Washington, que influenciaram temporariamente a administração Trump em questões pontuais, sem construir uma estratégia institucional sólida.

Implicações políticas

A avaliação do ex-embaixador aponta para uma política externa americana imprevisível e personalista sob Trump, que privilegia interesses imediatos sobre compromissos duradouros. O episódio evidencia como as relações entre países podem ser afetadas pela percepção e pela dinâmica interna dos líderes, especialmente quando há mudanças dramáticas no cenário político, como a perda de poder e relevância de um aliado governante.

A análise de Feeley levanta questionamentos sobre a durabilidade de alianças políticas baseadas mais em afinidades pessoais do que em interesses estratégicos amplos entre nações, especialmente num contexto em que o Brasil busca reforçar sua posição diplomática em fóruns multilaterais e regionalmente.

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1 comentário em “Trump teria “abandonado” Bolsonaro por não tolerar perdedores, diz diplomata dos EUA

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