Tretas em Balneário Camboriú: nem a direita aguenta mais Jair Renan
Vereador bolsonarista coleciona conflitos com a prefeita Juliana Pavan, vira piada até entre aliados conservadores e revive histórico de vergonha alheia que vai de minimização da Covid à expulsão da Twitch

O desgaste do sobrenome Bolsonaro em Balneário Camboriú (SC) tem nome e CPF: Jair Renan Bolsonaro (PL), o “04”, hoje vereador na cidade. Segundo reportagem do Diário do Centro do Mundo, o filho caçula do ex-presidente vem acumulando conflitos com a própria direita local e já virou motivo de constrangimento até entre aliados conservadores que, em tese, deveriam ser sua base natural.
A principal adversária política de Jair Renan no município é justamente uma liderança de direita: a prefeita Juliana Pavan (PSD), primeira mulher a comandar a cidade. Em entrevista a um podcast, ela foi cirúrgica ao resumir a atuação do vereador: disse que ele quase não fala, quase não aparece e, quando resolve se manifestar, simplesmente não dá para entender o que ele diz. A declaração, que rapidamente repercutiu nas redes, escancarou o incômodo da gestão municipal com o desempenho do herdeiro bolsonarista.
Em vez de recuar, Jair Renan respondeu no mesmo tom agressivo que marcou a trajetória da família na política nacional. O vereador chegou a chamar a prefeita de “analfabeta funcional”, numa tentativa de desqualificar a gestora que, diferentemente dele, tem base eleitoral consolidada na cidade. A troca de farpas expôs a ruptura dentro do campo de direita em Balneário Camboriú e reforçou a imagem de um vereador mais dedicado a tretas públicas do que ao mandato.
O histórico de Jair Renan ajuda a explicar por que ele enfrenta resistência até entre simpatizantes do bolsonarismo. Antes de entrar na política institucional, o “04” já havia se tornado símbolo de vergonha alheia nacional: protagonizou lives em que minimizou a Covid-19, a exemplo do pai, e chegou a ser banido da plataforma de streaming Twitch por violar regras de conteúdo ao espalhar discurso de ódio e desinformação. Ou seja, nem para narrar jogo de videogame o bolsonarismo conseguiu emplacar o herdeiro sem que houvesse problema.
Agora, como vereador, as críticas giram em torno da falta de atuação concreta. Moradores e lideranças locais apontam que Jair Renan praticamente não aparece nos debates relevantes da cidade, não constrói agenda propositiva e se limita a discursos confusos, alinhados ao radicalismo da família Bolsonaro, mas vazios de conteúdo sobre os problemas reais de Balneário Camboriú. A própria prefeita, embora diga “respeitar” o mandato, deixou claro que não vê nele qualquer contribuição substantiva para o município.
A situação de Jair Renan também se insere num cenário mais amplo de esvaziamento do bolsonarismo. Com o pai condenado por tentativa de golpe e à beira de cumprir pena, e irmãos envolvidos em crises e processos no STF, o “04” tenta se projetar em Santa Catarina mas acaba entregando exatamente o contrário do que promete: em vez de somar, racha a direita, cria brigas desnecessárias e reforça a percepção de que o sobrenome Bolsonaro virou sinônimo de confusão, discurso de ódio e incapacidade administrativa.
Se até a direita de Balneário Camboriú já não suporta mais as “tretas” de Jair Renan, o recado político está dado: o capital eleitoral da família, sobretudo entre setores urbanos mais informados, despenca. O vereador que não consegue se manter dentro das regras de uma plataforma de streaming agora tenta se sustentar num cargo público que exige responsabilidade, diálogo e preparo – exatamente tudo o que, segundo a própria direita local, ele ainda não demonstrou ter.
