STM esclarece que não há processo em curso contra militares golpistas condenado pelo STF
Superior Tribunal Militar explica decisão após repercussão equivocada sobre representação que tratava de condenados pela trama golpista

Superior Tribunal Militar (STM) divulgou nesta sexta-feira (19) um esclarecimento oficial à imprensa e ao público sobre uma representação que vinha sendo associada nas últimas horas à possibilidade de instauração de processo para declarar “indignidade” e perda de patente de militares condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no âmbito da ação penal relacionada à tentativa de golpe de Estado. A Corte afirmou que não há nenhum processo dessa natureza em curso no STM.
A controvérsia começou após reportagens indicarem que a corte teria aceitado alguma espécie de pedido para julgar a perda de patente de oficiais militares ligados ao chamado “núcleo crucial” do golpe de 8 de janeiro de 2023. Em nota oficial, contudo, o tribunal explicou que a situação foi equivocadamente interpretada por parte da imprensa, e que os autos recebidos não configuram o tipo de procedimento que levaria à declaração de indignidade ou à perda do oficialato dos militares condenados.
O que realmente ocorreu no STM
De acordo com o comunicado do tribunal, no dia 9 de dezembro, o STM recebeu uma representação criminal ou notícia-crime apresentada pela deputada federal Natália Bonavides (PT-RN) que mencionava as condenações proferidas pelo STF contra militares envolvidos na trama golpista. A intenção da peça, segundo o tribunal, foi apenas informar a Corte sobre essas condenações e solicitar providências, e não para instaurar ou “aceitar” um processo disciplinar específico para perda de patente.
O STM deixou claro que a representação recebida não deve ser confundida com uma Representação de Indignidade — instrumento jurídico específico pelo qual se poderia, de fato, iniciar um processo para declarar um militar indigno de manter seu posto ou patente. A Constituição Federal determina que apenas o Ministério Público Militar (MPM) tem legitimidade para apresentar ao STM esse tipo de representação contra oficiais condenados a pena privativa de liberdade superior a dois anos.
O tribunal ressaltou que o despacho do ministro José Barroso Filho, relator sorteado para os autos, se limitou a encaminhar a documentação ao Ministério Público Militar, e não a instaurar um processo de perda de oficialato ou qualquer outro procedimento disciplinar.
Importância do esclarecimento
O esclarecimento do STM acontece em um momento em que questões sobre a punição de militares condenados pelo STF por participação na tentativa de golpe têm ganhado destaque na mídia e no debate público. A própria Corte tem se preparado para receber, a partir de 2026, representações formalizadas pelo MPM com base em condenações já transitadas em julgado, para que cada caso seja analisado individualmente por um relator específico — como previsto na legislação vigente.
Esses procedimentos, quando efetivamente iniciados, envolveriam a análise de possível indignidade para permanecer no oficialato daqueles que mantêm patente nas Forças Armadas e tenham sido condenados por crimes graves. Porém, até o momento, nenhuma representação formal desse tipo foi apresentada ao tribunal pelo Ministério Público Militar, e por isso nenhum processo está em andamento no STM para essa finalidade.
O papel do Ministério Público Militar
Especialistas em direito militar e constitucional destacam que o papel do Ministério Público Militar é fundamental para que qualquer processo disciplinar envolvendo oficiais possa tramitar no STM. Sem o oferecimento de uma representação pelo MPM, o tribunal não instaura, por si só, processos que resultem em perda de patente ou outras sanções administrativas nesse contexto.
Repercussões políticas
A divulgação equivocada de que o STM teria “aceitado” um pedido para processar militares condenados pela trama golpista levantou debates acalorados nas redes sociais e no meio político, com interpretações diversas sobre a atuação da corte e das Forças Armadas no pós-julgamento. Com o esclarecimento, porém, a Corte busca resguardar a precisão jurídica dos fatos e evitar má interpretação de suas competências constitucionais.
Conclusão
O Superior Tribunal Militar deixou claro que:
- Não existe, atualmente, nenhum processo em andamento no STM para declarar a indignidade ou retirar o oficialato de militares condenados pelo STF na trama golpista.
- A representação recebida em dezembro não corresponde à forma jurídica que permitiria tal julgamento.
- O procedimento se resumiu ao encaminhamento ao Ministério Público Militar, que é o órgão com competência para promover representações dessa natureza.
O debate público segue, mas juridicamente a Corte reafirma que a legitimidade processual para perda de patente está reservada ao Ministério Público Militar, e que nenhuma ação dessa natureza tramita no STM neste momento.
