Secretário de Trump elogia Lula
Em uma entrevista em Washington, secretário de Estado dos EUA elogia interlocução com o presidente Lula e afirma que relação bilateral está “em trajetória positiva”

O secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, afirmou nesta sexta-feira (19) que o relacionamento entre Washington e Brasília está “em uma trajetória positiva” e destacou a interlocução entre os governos americano e brasileiro sob os presidentes Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva. A declaração, dada durante entrevista coletiva em Washington, foi interpretada por analistas políticos como um indicativo de que a Casa Branca tem distanciado sua política externa do bolsonarismo, enfraquecendo a aposta de aliados como o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) em favor de uma reconciliação pragmática com o governo brasileiro.
Rubio, um dos nomes da administração Trump encarregado das relações com a América Latina, afirmou que os dois países — apesar de eventuais divergências históricas em alguns temas — encontraram “temas de interesse comum” que podem pautar uma agenda bilateral mais ampla. Segundo ele, o diálogo com autoridades brasileiras, inclusive com o chanceler do país, tem sido frequente e marcado por cooperação em áreas consideradas estratégicas tanto para Brasília quanto para Washington.
Evidências de mudança na relação Brasil-EUA
Em sua fala, Rubio não apenas mencionou os laços diplomáticos, como contextualizou que, nos últimos meses, os Estados Unidos e o Brasil tiveram avanços nas relações comerciais e políticas, incluindo a redução de barreiras tarifárias para produtos brasileiros e a revogação de sanções impostas a autoridades brasileiras no contexto de disputas jurídicas. Esses últimos movimentos haviam sido fonte de tensão política entre os dois países no início de 2025, especialmente após decisões judiciais internas no Brasil que repercutiram internacionalmente.
O secretário de Estado também deixou claro que, apesar de divergências anteriores, as conversas bilaterais “são francas” e refletem um esforço de ambas as partes para consolidar uma agenda comum. O avanço desse tipo de cooperação com Brasília foi visto por diplomatas e analistas internacionais como um sinal de que a administração Trump opta por priorizar interesses estratégicos de longo prazo em vez de manter confrontos ideológicos pontuais.
Repercussão política no Brasil
A declaração de Rubio acontece em um momento em que a política externa tem sido tema de forte disputa simbólica no Brasil. Nos últimos meses, o deputado Eduardo Bolsonaro e outros aliados próximos do bolsonarismo teriam buscado respaldo em setores da política americana para críticas às decisões do sistema de Justiça brasileiro, inclusive na tentativa de atrair sanções ou pressões diplomáticas sobre figuras do Judiciário brasileiro. A fala de Rubio, ao ressaltar a postura positiva em relação a Lula, foi interpretada por observadores como um posicionamento de mudança que deixa para trás a ideia de um aliança automática entre setores da direita brasileira e a administração Trump.
Enquanto deputados como Eduardo Bolsonaro vinham articulando apoio internacional para questionar políticas internas brasileiras — postura que chegou a gerar críticas e divisões no cenário político dos EUA — a Casa Branca parece, na última fase de 2025, reforçar a prioridade de relações diplomáticas baseadas em diálogo estratégico e pragmático com Brasília, independentemente de orientações ideológicas restritas.
Também chamou a atenção o fato de que Rubio reconheceu que houve “desentendimentos” anteriores, mas deixou claro que o relacionamento atual é positivo e promissor, abrindo espaço para futuras cooperações que vão além dos campos tradicionais de comércio e segurança.
Implicações para o cenário diplomático
A fala do secretário de Estado americano assume relevância por ocorrer em meio a um contexto global de realinhamento de prioridades geopolíticas. Para o Brasil, um país que ocupa posição central em temas como energia, meio ambiente, comércio e temas globais, a melhoria nas relações com os EUA pode refletir em novos acordos e em uma interlocução mais estável com uma potência global. Já para os Estados Unidos, reorientar a abordagem com Brasília pode ter impactos na agenda regional, sobretudo na América do Sul, onde questões como relações com a Venezuela e a cooperação em segurança e economia são cada vez mais importantes.
Esse reposicionamento também é visto como um recuo simbólico de uma estratégia anterior que havia ampliado tensões entre Washington e setores do governo brasileiro — especialmente em temas jurídicos relacionados ao julgamento de figuras políticas de alta relevância no Brasil — e pode ser entendido como uma tentativa de criar pontes sólidas para além de polarizações partidárias.
Contexto mais amplo nas relações bilaterais
O elogio oficial de um alto representante da administração Trump ao presidente Lula destaca que, apesar de eventuais críticas internas ou disputas políticas, as relações entre Brasil e Estados Unidos seguem uma dinâmica em evolução. Ao enfatizar que o relacionamento está em construção e em “trajetória positiva”, Rubio desfaz narrativas de antagonismo absoluto e abre margem para cooperações que podem incluir comércio, investimentos e diálogos regionais estratégicos.
