Relatório do PL Antifacção vive ritmo caótico e recuos diários de Guilherme Derrite irritam aliados de Jair Bolsonaro
Quarta versão em menos de uma semana, mudanças que enfraquecem a Polícia Federal e governadores bolsonaristas pedem adiamento da votação

O deputado Guilherme Derrite (PP-SP), relator do PL Antifacção, enfrenta uma crise de credibilidade: em apenas seis dias ele apresentou quatro versões diferentes do texto, num ritmo descrito por aliados de Jair Bolsonaro como “caótico”. A situação tornou-se fonte de reclamações até entre parlamentares que apoiam o ex-presidente.
Mesmo dentro da base bolsonarista, cresce a insatisfação. O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), e o governador do Rio-de-Janeiro, Cláudio Castro (PL), pediram formalmente ao presidente da Câmara, Hugo Motta, o adiamento da votação do projeto. A justificativa: “não interessa aprovar uma proposta que ficará parada no Senado ou será considerada inconstitucional”.
O embate institucional
O governo federal, bem como a própria Polícia Federal, apontam falhas graves no relatório: principalmente nos artigos que tratam da atuação da PF, do destino de verbas de apreensão e da tipificação de facções. A pressão interna fez Derrite recuar trechos que submetiam a PF ao comando estadual, mas técnicos apontam que ainda há lacunas.
Uma reunião entre Motta, Derrite e o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, tentou selar um acordo técnico, mas a quarta versão ainda não agradou ao Planalto.
Por que isso importa
Para nós que defendemos justiça social, democracia e soberania, esse episódio expõe uma derrocada simbólica da direita vassalocrata:
- O aparente “pacote de segurança” virou disputa interna de poder, recurso e favorecimento — e deixa de ser solução para se tornar parte do problema.
- A pressa legislativa sem consenso técnico corrobora o risco de aprovar regras que debilitam o Estado e alimentam estruturas criminosas.
- Essa instabilidade interna oferece à esquerda uma janela de oportunidade para reafirmar uma agenda de laicidade, igualdade, transparência e Estado forte — não Estado ao serviço de grupos ou facções.
Conclusão
A sucessão de recuos, versões e caos no PL Antifacção revela que o projeto não é apenas vulnerável — ele caminha para ser enredado pelas disputas de elites. A direita bolsonarista agora se auto-sabotou ao conferir ao relator um papel que não foi projetado para manter. A tarefa agora não é apenas debater o texto, mas exigir que toda proposta de segurança pública seja construída com base na cidadania, na vida e na justiça social — não no espetáculo de poder.
