Reportagem revela que parte de contrato de R$ 108 milhões firmado com a prefeitura de São Paulo foi repassado a empresa ligada a homem suspeito de jogar a esposa do 10º andar

São Paulo — Uma apuração exclusiva do jornalista Demétrio Vecchioli, publicada nesta quinta-feira (11), aponta que a produtora responsável pela produção do filme “Dark Horse” — cinebiografia internacional sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro — teria repassado cerca de R$ 12 milhões a uma empresa ligada a um suspeito de homicídio, gerando novos questionamentos sobre a origem e o destino de recursos públicos do contrato.

O caso ganhou repercussão a partir de dados sobre o contrato de R$ 108 milhões firmado pela gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB), de São Paulo, com o Instituto Conhecer Brasil (ICB), ONG que responde pela produção brasileira do filme e que havia sido contratada para instalar e manter pontos de internet Wi-Fi em comunidades carentes da cidade — serviço que acabou sendo executado de forma controversa e com custos muito acima do praticado por serviços públicos similares.

R$ 12 milhões para empresa de suspeito de homicídio

Segundo a reportagem, parte dos recursos do megacontrato — cerca de R$ 12 milhões — foi repassada pelo ICB a uma empresa chamada Favela Conectada, de propriedade de Alex Leandro Bispo dos Santos. O nome dele aparece em contratos de prestação de serviços como terceirizado para manutenção dos pontos de Wi-Fi com o Instituto Conhecer Brasil.

Bispo dos Santos foi preso na última terça-feira (9) sob suspeita de ter jogado sua esposa, Maria Katiane Gomes da Silva, do 10º andar de um edifício na Zona Sul de São Paulo, em um episódio ocorrido em 29 de novembro. Embora inicialmente tivesse alegado que a mulher teria se jogado após discussão do casal, imagens de câmeras de segurança e depoimentos de testemunhas indicam que ele teria agredido a vítima momentos antes da queda, e agora é tratado como principal suspeito do crime.

Contrato e repasses questionados

O ICB, presidido por Karina Ferreira da Gama — mesma responsável associada à produção do filme que narra a trajetória de Bolsonaro nas eleições e nos anos políticos — firmou um contrato de grande vulto com a prefeitura de São Paulo para serviços de internet comunitária. Parte dos recursos foi subcontratada a empresas de tecnologia, entre elas a Favela Conectada, com valores muito acima do praticado no mercado ou por serviços públicos equivalentes.

Além disso, a produtora Go Up Entertainment, também vinculada a Karina, atua diretamente na produção do longa-metragem “Dark Horse”, que tem previsão de lançamento nos cinemas em 2026 e retrata a vida política de Bolsonaro desde sua campanha e atentado de 2018, com direção de Cyrus Nowrasteh e o ator Jim Caviezel no papel principal.

Repercussões e apelos por investigação

Autoridades, especialistas em fiscalização de contratos públicos e ativistas de transparência pedem explicações sobre o volume de recursos, a conformidade dos repasses e a eventual conexão entre a gestão pública e interesses particulares por meio de subcontratações. A situação se soma à polêmica sobre a qualidade dos serviços disponibilizados — com menos pontos de Wi-Fi instalados do que o prometido — e ao sobrepreço evidente quando comparado ao que serviços semelhantes custariam à administração pública.

Até o momento, nem a produtora, nem a prefeitura de São Paulo — que em outras ocasiões defendeu a legitimidade do contrato com o ICB — emitiram comentário público expressamente sobre as subcontratações específicas que envolvem a Favela Conectada e Alex Bispo dos Santos.

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