Malafaia diz orar por Lula e Moraes mesmo criticando os dois: “Largo o aço, mas sou obrigado”
Em entrevista, pastor evangélico aliado do bolsonarismo afirma que, por convicção religiosa, ora por autoridades constituídas como o presidente Lula e o ministro Alexandre de Moraes, apesar de divergências políticas

O pastor Silas Malafaia, conhecido por sua atuação política junto a setores conservadores e alinhado historicamente ao bolsonarismo, afirmou nesta terça-feira (16) que ora pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), apesar de frequentemente criticá-los em debates públicos e nas redes sociais. A declaração foi dada em entrevista ao colunista Paulo Cappelli, do Metrópoles.
“Eu critico o Lula, eu largo o aço em cima dele. Agora, como um cristão, eu sou obrigado a orar pelas autoridades que estão aí, até por Xandão, que está fazendo covardia contra mim”, afirmou Malafaia, usando o nome popular de Alexandre de Moraes para se referir ao ministro.
Convicção religiosa e orientação bíblica
O líder evangélico enfatizou que sua postura não é um recuo político, mas sim um compromisso derivado de sua fé cristã. Malafaia lembrou que, segundo a sua leitura da Bíblia — especialmente na carta de Paulo a Timóteo — os cristãos são instruídos a “orar pelas autoridades constituídas”, independentemente de afinidades políticas ou discordâncias pessoais.
“A obrigação da Igreja é orar pelas autoridades constituídas. Depois que o cara ganha uma eleição, nós entendemos que é a vontade permissiva de Deus”, disse ele, refletindo sua interpretação teológica sobre legitimidade política e submissão às instituições em exercício.
O pastor foi ainda mais enfático ao destacar que não existe exceção bíblica para deixar de orar por líderes, mesmo em situações de conflito ou perseguição. “A Bíblia não diz: ‘Orem pelas autoridades constituídas, mas, se alguma autoridade estiver te perseguindo, manda ele pro inferno’. Não tem esse versículo na Bíblia”, afirmou.
Entre religião e política
Malafaia tem sido uma voz ativa em debates políticos, frequentemente alinhando suas posições com frentes conservadoras e críticas a políticas e figuras de esquerda. Contudo, sua declaração surpreende ao retomar um princípio religioso que, na sua visão, se sobrepõe às divergências partidárias e ideológicas quando se trata de oração e responsabilidade espiritual.
O pastor afirmou que suas orações não implicam concordância com as ações ou decisões políticas de Lula ou de Moraes, mas refletem um compromisso com aquilo que ele considera ordem e soberania de Deus sobre as autoridades constituídas. “Quando eu oro, é para que a vontade de Deus se estabeleça na vida deste homem. Manifeste a tua justiça”, explicou Malafaia.
Repercussão e contexto público
A declaração de Malafaia ocorre em meio a um cenário político polarizado, em que alianças entre fé, política e narrativa ideológica têm papel relevante em campanhas e mobilizações sociais — especialmente no terreno evangélico, que representa parcela significativa do eleitorado brasileiro.
Especialistas em religiosidade e política destacam que posturas como a de Malafaia podem influenciar segmentos importantes da base conservadora, ao mesmo tempo em que geram debates internos sobre a relação entre convicções pessoais e estratégia política pública.
Malafaia já se posicionou em diversas outras ocasiões sobre eleições, políticas públicas e figuras públicas, reforçando a intersecção entre sua liderança religiosa e atuação política. Com a aproximação das eleições de 2026 e a intensificação das articulações partidárias, declarações como a desta terça-feira tendem a ser interpretadas tanto por aliados quanto por adversários à luz das disputas eleitorais e ideológicas em curso no país.
