As principais entidades do transporte rejeitaram mobilização pró-Bolsonaro

A convocação de uma paralisação nacional dos caminhoneiros — anunciada para o dia 4 de dezembro por apoiadores de Jair Bolsonaro — naufragou antes mesmo de ganhar corpo. As principais lideranças do setor, incluindo Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte e Logística (CNTTL) e Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava), declararam, nesta quarta-feira (3), repúdio à iniciativa, classificando a proposta de paralisação como uma manobra política que não representa as reais demandas da categoria.

Conforme comunicado conjunto, as entidades afirmaram não compactuar com convocações de servidores e trabalhadores “para fins políticos”, sobretudo quando essas pautas ignoram as necessidades históricas dos caminhoneiros — como piso mínimo de frete, segurança nas rodovias, garantia de aposentadoria especial e melhoria nas condições de trabalho.

O motim havia sido convocado por indivíduos isolados no meio bolsonarista — entre eles apelidados “Chicão Caminhoneiro” e o ex-desembargador aposentado Sebastião Coelho — e circulava em grupos de WhatsApp e redes sociais como ato de protesto contra a prisão de Bolsonaro e pedido de anistia.

Categoria desacredita mobilização

Para Wallace Landim — o “Chorão” —, um dos nomes mais tradicionais da categoria, a convocação não passou de “tentativa de uso político” de um setor que sobrevive com trabalho duro e pouca visibilidade. Ele foi direto:

“Não posso usar a categoria para defender político A ou político B… a nossa luta é pelo transporte, não por retórica golpista.”

Da mesma forma, dirigentes da CNTTL reforçaram que uma greve só seria legítima se organizada com base em pautas concretas de interesse da categoria — e não como instrumento de militância bolsonarista ou retaliação a decisões judiciais.

O contexto: memória da greve de 2018 e o desgaste da direita

A tentativa de mobilização vem num momento em que o Brasil ainda carrega as feridas da histórica greve de caminhoneiros de 2018 — que paralisou rotas por dias, gerou desabastecimento e serviu de instrumento de pressão política. Muitos trabalhadores autônomos denunciaram à época que foram usados como massa de manobra.

Agora, a própria categoria rejeita a repetição desse ciclo. A recusa pública e unânime das lideranças representa uma ruptura: recuso-me a ser peão em jogo de elite. Isso expõe o desgaste da estratégia de usar trabalhadores como massa de manobra política — um truque antigo das forças de extrema-direita que busca instabilidade para alcançar objetivos eleitorais.

Para quem luta por justiça social, dignidade e poder popular, a postura dos caminhoneiros representa um sopro de resistência: não é apenas sobre transporte. É sobre dignidade, voz própria, e — sobretudo — decidir como lutar, e por quem.

O significado para o presente político

O fracasso da greve mostra que setores tradicionais da classe trabalhadora não estão dispostos a servir de massa de manobra de grupos extremistas ou vassalos da velha elite. Esse recuo fortalece a democracia social e demonstra que a força real da mobilização popular vem de pautas concretas — salário digno, respeito ao trabalho e preservação dos direitos — não de nostalgia golpista nem chantagem.

Se o bolsonarismo apostava em repetir a cartilha de 2018 para criar instabilidade, errou feio. Desta vez, a classe caminhoneira mostrou que não será instrumento de guerra de elites — e que suas reivindicações não cabem em narrativa golpista.

Fonte: Diário do Centro do Mundo

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