Redação

A programação da TV Globo foi interrompida na madrugada para veicular um plantão extraordinário anunciando a prisão preventiva de Jair Bolsonaro.
Até o momento da interrupção, o canal exibia o programa Globo Rural com uma reportagem sobre o arroto do gado como fonte de metano — um tema técnico, rural, aparentemente alheio ao espetáculo político que se revelava.
A matéria explicava que o gado emite metano principalmente pelo arroto, resultado da fermentação no rúmen; antes que a reportagem aprofundasse o tema, o plantão entrou em rede nacional.
O timing é simbólico: o Brasil assiste a um evento histórico — a prisão de um ex-presidente — e, ao mesmo tempo, a grande mídia interrompe o debate político para dar lugar a um tema agronômico. Esse descompasso entre gravidade política e cobertura midiática revela duas verdades incômodas: primeiro, a crise institucional e democrática comporta-se como mais um episódio na agenda da grande mídia, tratável como interrupção técnica. Segundo, o Brasil, nessa escala, aparece como território de espetáculo — onde o relevante perde para o formato.
Se a mobilização popular, a distribuição de poder e os rumos da soberania nacional estão em jogo, o “arriar” o foco para o arroto de gado é sintomático: as instituições e as narrativas se embaralham. Para quem aposta em justiça social, industrialização, rompimento do modelo colonial exportador — o episódio não é mero caso de televisão: é metáfora de como o poder real se dilui quando o espetáculo domina.
Fonte: Diário do Centro do Mundo.