Inspeção da Papuda revela quadro de abandono na saúde prisional: apenas dois profissionais para milhares de presos, incluindo o setor onde Jair Bolsonaro deve cumprir pena

Um relatório de inspeção no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, revelou a radiografia da unidade que se prepara para receber Jair Bolsonaro: há apenas dois servidores da área de saúde para cerca de 3 mil detentos, incluindo o setor onde ficará a cela destinada ao ex-presidente. O documento foi divulgado às vésperas da conclusão do julgamento dos embargos no Supremo Tribunal Federal (STF), que pode resultar na prisão do condenado.

De acordo com as informações divulgadas pela Revista Fórum, a estrutura da Papuda para atendimento médico, psicológico e de enfermagem é considerada dramaticamente insuficiente, com longas filas, demora para consultas e inexistência de acompanhamento contínuo para doenças crônicas. O relatório aponta que a proporção entre profissionais de saúde e população carcerária fere qualquer parâmetro mínimo de dignidade, numa unidade que já é conhecida pela superlotação.

O documento descreve ainda que os detentos dividem espaços insalubres, com ventilação precária, risco de proliferação de doenças infectocontagiosas e pouca oferta de medicamentos. Nesse cenário, a perspectiva é de que a mesma infraestrutura precária sirva tanto para a massa carcerária quanto para a cela preparada para Bolsonaro, reforçando a contradição entre o status político do preso e a realidade do sistema prisional brasileiro.

A divulgação dos dados ocorre num momento em que cresce a atenção sobre a Papuda por causa da possível transferência de Bolsonaro para o local. Enquanto aliados tentam vender a narrativa de “perseguição” e “exagero das penas”, o relatório escancara outro lado da história: o país que o ex-presidente governou por quatro anos mantém uma política de encarceramento em massa sem estrutura mínima de saúde, deixando milhares de pessoas sob risco permanente.

Organizações de direitos humanos e entidades ligadas à área da saúde vêm reiterando que a situação na Papuda não é um ponto fora da curva, mas parte de um quadro nacional de abandono da saúde prisional, em que falta equipe, remédio, exame, leito hospitalar e respeito às normas básicas de atendimento. A cela destinada a Bolsonaro, situada dentro desse contexto, recoloca no centro do debate a responsabilidade do Estado brasileiro pelas condições em que mantém seus presos.

Com o fim do julgamento dos embargos se aproximando e a Papuda sob os holofotes, o relatório sobre os dois servidores para 3 mil detentos transforma a discussão sobre a prisão de Bolsonaro em algo maior do que o destino de um ex-presidente: expõe o fracasso histórico da política prisional e escancara que, por trás dos muros, o que impera é a combinação de superlotação, precariedade e violação de direitos básicos.

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