Deputado alerta que avanço de projeto de “anistia light” pode enfraquecer respaldo internacional dos Estados Unidos, levantando risco de perda de apoio externo no caso de Jair Bolsonaro

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) enviou um aviso preocupante ao ex-presidente Jair Bolsonaro sobre os efeitos que um eventual avanço de um projeto de “anistia light” poderia ter nas relações com os Estados Unidos, segundo relatório da Polícia Federal que integra pedido de indiciamento por tentativa de coação no julgamento sobre a trama golpista de 2022.

Conforme o documento, o parlamentar alertou o pai no mês de julho de 2025 que a aprovação de uma medida que buscasse reduzir significativamente as penalidades de Bolsonaro e outros envolvidos poderia afastar o apoio político internacional dos EUA à família Bolsonaro, em um momento de grande tensão diplomática entre os dois países.

“Ajuda dos EUA terá sido o post do Trump”

Em mensagens incluídas no relatório da PF, Eduardo Bolsonaro afirmou que, caso a chamada “anistia light” fosse aprovada no Brasil, a ajuda dos Estados Unidos deixaria de existir. Segundo o deputado, o único suporte externo remanescente seria uma postagem do ex-presidente norte-americano Donald Trump, que chegou a criticar decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) no contexto da crise política brasileira — e que havia sido interpretada por aliados como um sinal de respaldo ao ex-mandatário.

“Se a anistia light passar, a última ajuda vinda dos EUA terá sido o post do Trump. Eles não irão mais ajudar”, teria dito Eduardo a Bolsonaro, na conversa registrada pela Polícia Federal.

Segundo os relatos obtidos pela PF, o deputado mostrava preocupação de que a aprovação da redução de penas pudesse enfraquecer a pressão americana sobre as autoridades brasileiras e prejudicar a estratégia da família em obter respaldo externo para seus objetivos políticos e eleitorais.

Contexto de tensão diplomática

A troca de mensagens ocorre em meio a um cenário complexo nas relações entre Brasil e Estados Unidos em 2025, que incluiu episódios de tensão diplomática e sanções direcionadas a autoridades brasileiras ligadas ao julgamento de Bolsonaro. A crise bilateral foi marcada por críticas americanas à condução de processos jurídicos no Brasil e por movimentos políticos que tentaram capitalizar apoio externo para contornar pressões internas.

Nos últimos dias, os Estados Unidos retiraram sanções aplicadas ao ministro do STF Alexandre de Moraes e sua esposa, poucos meses depois de tê-las imposto no contexto de disputas políticas envolvendo o ex-presidente e seus aliados — uma mudança vista por muitos como parte de uma aproximação diplomática entre os dois países.

Apesar da alteração no posicionamento americano, Eduardo Bolsonaro reagiu com “pesar” à retirada das sanções e reiterou nas redes sociais sua crítica à falta de unidade política interna que, na sua visão, teria enfraquecido a posição internacional do Brasil em relação ao caso.

PL da Dosimetria e reflexos externos

O alerta de Eduardo vinha no contexto do debate sobre o PL da Dosimetria, aprovado na Câmara dos Deputados, que tem como objetivo alterar critérios de cálculo de penas relacionadas aos envolvidos nos eventos de 2022 e que, embora ainda precise ser votado no Senado, foi visto por críticos como uma tentativa de suavizar punições.

A movimentação interna e as mensagens entre pai e filho evidenciam como questões legislativas domésticas têm se entrelaçado com a dinâmica diplomática internacional — impactando, inclusive, a percepção de atores externos sobre o cenário político brasileiro.

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