Ana Paula Lima aciona PGR e expõe uso de emenda por Júlia Zanatta para turbinar clube de tiro
Deputada do PT leva à PGR denúncia de que Júlia Zanatta direcionou R$ 800 mil em emenda pix para um clube de tiro privado

A deputada federal Ana Paula Lima (PT-SC) decidiu deixar a hipocrisia bolsonarista nua e crua no papel. Nesta sexta-feira, 14 de novembro, ela protocolou uma representação na Procuradoria-Geral da República (PGR) contra a parlamentar bolsonarista Júlia Zanatta (PL-SC), acusando-a de usar R$ 800 mil em emenda parlamentar para turbinar um clube de tiro privado ligado política e pessoalmente ao seu grupo. O alvo da denúncia é o clube Top Gun – Armas e Acessórios Ltda., em São José (SC), vitrine do projeto armamentista vassalocrata financiado com dinheiro público.
A peça apresentada por Ana Paula Lima aciona a PGR com base em um relatório técnico do Tribunal de Contas de Santa Catarina (TCE-SC), que desmonta o roteiro do favorecimento: pesquisa de preços restrita, ausência de alternativas públicas, critérios feitos sob medida para a empresa “amiga” e até documento com data falsa para justificar o negócio. Ou seja: tudo o que caracteriza uma licitação montada para dar “certo” – certo para o clube de tiro, errado para o interesse público.
Segundo o TCE-SC, menos de um ano após a inauguração do clube de tiro – evento em que Júlia Zanatta aparece em vídeo tratando os proprietários por apelidos e celebrando o empreendimento – a emenda destinada por ela mesma já irrigava os cofres da Prefeitura de São José, que, na sequência, contratou diretamente a Top Gun. Até agora, o clube de tiro recebeu R$ 547 mil, quase 70% do valor da emenda. É a velha história: primeiro se cria o negócio privado, depois se encaixa a verba pública como “presente” oficial.
O relatório do TCE-SC descreve elementos compatíveis, em tese, com frustração do caráter competitivo da licitação (art. 337-F do Código Penal), além de possíveis crimes de peculato-desvio, corrupção passiva, corrupção ativa e desvio de finalidade na utilização de recursos federais. Na prática, o que está em jogo é o uso de verbas da União para fortalecer um nicho ideológico e econômico alinhado ao bolsonarismo armamentista – exatamente o que a Constituição proíbe quando fala em impessoalidade e moralidade administrativa.
Na representação, Ana Paula Lima aciona a PGR contra Júlia Zanatta e pede que seja aberta investigação criminal sob supervisão do STF, por se tratar de parlamentar com foro privilegiado. Ela solicita ainda que a Polícia Federal faça perícia nos documentos com suspeita de adulteração e que os autos completos do TCE-SC sejam anexados ao inquérito, garantindo que a corte tenha acesso a todo o rastro do dinheiro.
