Enquanto ex-presidente segue preso, influenciador expõe racha público dentro do PL — crise expõe fragilidade do projeto familiar

O influenciador bolsonarista Allan dos Santos, atualmente foragido da Justiça brasileira e vivendo nos Estados Unidos, voltou a provocar turbulência no núcleo político da família Bolsonaro. Em vídeo publicado nesta segunda-feira (1º/12), ele disparou contra a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, afirmando que ela estaria “cagando para o Bolsonaro”, insinuando abandono e desinteresse pelo marido, o ex-presidente.

“Ela não estava quando o Bolsonaro foi preso. Está viajando o Brasil inteiro, como se o Bolsonaro já estivesse morto. Ela está cagando para o Bolsonaro.”

A ofensa vem em meio a um clima de tensão política e familiar no partido Partido Liberal (PL), depois de Michelle criticar a aproximação de parte da legenda no Ceará com Ciro Gomes (PSDB) — movimento que provocou forte reação de membros do clã Bolsonaro e acirrou disputas internas.

Reações imediatas e desgaste público

A repercussão foi rápida. A ex-primeira-dama e presidente nacional do nicho feminino do PL, ao responder às acusações, negou deserção e reafirmou lealdade ao ex-presidente. Em nota, afirmou que Allan “não conhece nossa rotina” e que suas declarações se baseiam em “ânsia de aparecer, falando sem saber o que realmente está acontecendo”.

“O marido me pediu que eu não cancelasse as agendas, […] Temos missão de levar uma palavra de fé e esperança ao nosso povo”, disse Michelle, negando que estivesse ignorando a prisão do ex-presidente e justificando seu trabalho político mesmo num contexto pessoal e familiar delicado.

Do outro lado, a ofensiva de Allan dos Santos expõe fissuras profundas no que resta de coesão no bloco bolsonarista. A polarização interna — entre os que defendem a manutenção de uma lealdade incondicional à figura de Jair Bolsonaro e os que enxergam o andamento político como um jogo separado — ganha público e desgaste comunicacional.

Implicações políticas e simbólicas

Para além do drama familiar, a briga pública serve como síntese da crise maior: o desmoronamento de uma estratégia política construída sobre culto de personalidade, obediência e medo. A desfiliação de apoio — expressa em termos agressivos — mostra como a base política da “direita bolsonarista” está se fragmentando.

Se até mesmo vozes tradicionais do meio conservador — como a de Allan dos Santos — levantam dúvida sobre a lealdade de Michelle, o estrago simbólico pode ser maior do que muitos percebem. A instabilidade interna do PL e da direita pode abrir espaço para recomposições políticas, reagrupamentos de forças ou desmoronamento de alianças ideológicas.

A investida contra Michelle Bolsonaro — pessoa que simboliza, para muitos, o laço familiar e a continuidade do legado político de Bolsonaro — revela como o discurso do “amor à pátria” e da “família tradicional” se desfaz diante de disputas de poder, ambição e traições simbólicas.

Esse episódio chega como sinal de alerta: o que resta do bolsonarismo não é apenas um movimento retórico, mas uma rede prestes a colapsar por dentro. E, para quem luta por justiça social e soberania popular, quanto antes desmoronar — melhor para sepultar de vez esse ciclo de impunidade e intersecção entre milícias políticas, aparato estatal e poder conservador.

Fonte: Reportagem original do Metrópoles e veículos correlatos.

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