Mesmo com corte tarifário global, Governo Trump mantém sobretaxa de 40% sobre café, carne e frutas brasileiras, e vice-presidente classifica medida como “distorção” que precisa ser corrigida

O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, afirmou neste sábado (15) que o Brasil vai cobrar nova rodada de negociação com o Governo Trump, após a Casa Branca manter uma sobretaxa de 40% sobre produtos brasileiros, mesmo anunciando redução de tarifas para cerca de 200 itens de diversos países. A decisão de Washington foi apresentada como recuo parcial do “tarifaço” global, mas preservou o peso máximo justamente sobre o Brasil.

Segundo Alckmin, o corte foi “bem recebido”, porém não resolve o desequilíbrio criado contra o Brasil. Ele lembrou que a sobretaxa de 40% foi imposta pelo Governo Trump em julho, somando-se aos 10% definidos em abril, no contexto da ofensiva tarifária batizada de “Tarifas do Dia da Libertação”, que atingiu vários parceiros comerciais. No caso brasileiro, a sobretaxa adicional foi justificada de forma política, em meio à gritaria trumpista contra o julgamento e a condenação de Jair Bolsonaro no Brasil.

A nova ordem executiva revogou a parcela de 10% das tarifas recíprocas para uma lista de produtos, mas manteve íntegra a sobretaxa de 40% sobre exportações brasileiras. Com isso, itens como café, carne bovina, frutas tropicais e castanhas seguem entrando no mercado norte-americano com alíquota total de 40%. Em alguns casos específicos, como o suco de laranja, a tarifa foi zerada, mas os principais produtos do agro exportador brasileiro continuam sob forte taxação.

O café está entre os mais afetados. O Brasil, principal fornecedor mundial da bebida, viu as exportações para os Estados Unidos perderem competitividade desde a imposição das tarifas. Agora, mesmo com a redução parcial, a alíquota sobre o café brasileiro permanece em 40%, patamar que Alckmin classificou como “muito alto” e incompatível com o papel do país na segurança alimentar global. Carne bovina e frutas como manga, abacaxi, banana, açaí e goiaba também seguem sob o mesmo nível de sobretaxa.

Alckmin destacou que, antes do tarifaço, cerca de 23% das exportações brasileiras para os Estados Unidos entravam sem cobrança adicional, somando aproximadamente US$ 40 bilhões. Com as mudanças anunciadas nesta semana, esse percentual subiu para 26%, mas o vice-presidente insistiu que ainda há uma “distorção a ser corrigida”, já que todos os demais países receberam corte linear de 10%, enquanto o Brasil, que chegou a ter 50%, ficou com 40%.

O vice-presidente lembrou que o Brasil não é deficitário na relação com os Estados Unidos. Ao contrário: dados oficiais indicam superávit norte-americano na balança comercial bilateral, o que reforça o caráter político das sobretaxas impostas pelo Governo Trump, ligado à reação ao processo judicial contra Bolsonaro e à tentativa de pressionar o Brasil em temas como BRICS e política externa independente.

Alckmin citou a conversa recente entre o presidente Lula e Trump, em encontro internacional, e o diálogo do chanceler Mauro Vieira com o senador republicano Marco Rubio, como parte de uma estratégia de negociação contínua. De acordo com o vice-presidente, o objetivo é reduzir gradualmente a tarifa de 40%, mostrando que o Brasil é “solução, não problema” para o abastecimento dos Estados Unidos, especialmente em alimentos e energia.

Mesmo com a manutenção da sobretaxa, o governo brasileiro reforça que não há crise econômica interna e que a política comercial do Governo Trump, ao encarecer a compra de commodities in natura, abre espaço para o Brasil ampliar o beneficiamento interno de café, carne e frutas, agregando valor à produção nacional. Enquanto Alckmin cobra nova negociação, a equipe de Lula continua defendendo, em paralelo, a Lei da Reciprocidade, a diversificação de mercados via BRICS e um plano de reindustrialização que reduza a dependência de decisões unilaterais vindas de Washington.

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