Empresário participou de videoconferência com autoridades do BC no mesmo dia em que foi detido pela Polícia Federal

Poucas horas antes de ser preso pela Polícia Federal, o empresário Daniel Vorcaro, controlador do Banco Master, participou de uma reunião virtual com integrantes da cúpula de fiscalização do Banco Central do Brasil (BC) na tarde do dia 17 de novembro de 2025 — o mesmo dia em que foi detido no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo.

A videoconferência, realizada entre 13h30 e 14h10, contou com a participação de Ailton de Aquino, diretor de Fiscalização do Banco Central, Belline Santana, chefe do Departamento de Supervisão Bancária, e Paulo Sérgio Neves de Souza, chefe adjunto do mesmo departamento. Segundo documentos apresentados pela defesa de Vorcaro, o encontro serviu para informar o regulador sobre tratativas em curso para uma possível “solução de mercado” envolvendo o conglomerado bancário que ele controlava.

Mais tarde naquele dia, por volta das 22h, Vorcaro foi preso pela Polícia Federal no contexto da Operação Compliance Zero, que investiga a emissão de títulos de crédito considerados falsos e outras supostas irregularidades no sistema financeiro nacional. A PF justificou a prisão preventiva com base no risco de fuga, uma vez que o empresário teria passagem marcada para o exterior — informação que a defesa afirma ter sido compartilhada com autoridades durante a videoconferência.

Contexto da reunião e uso pela defesa

O encontro com o diretor de fiscalização do Banco Central ocorreu em um momento de pressão institucional sobre o Banco Master, que enfrentava questionamentos da autoridade monetária e já havia tido uma proposta de venda ao Banco de Brasília (BRB) frustrada pelo regulador.

A defesa de Vorcaro tem utilizado o documento interno do Banco Central que descreveu a videoconferência para argumentar que o banqueiro não estava tentando escapar do país, mas sim conduzindo negociações legítimas sobre a situação da instituição e comunicando sua intenção de viajar para o exterior.

Prisão, investigação e próximos passos

A detenção de Vorcaro e a liquidação extrajudicial do Banco Master, decretada pelo Banco Central no mesmo período, fazem parte da apuração sobre possíveis fraudes que teriam resultado em prejuízos bilionários provocados por operações de crédito consideradas irregulares. A operação mobilizou mandados de prisão e medidas cautelares que continuam sendo analisadas pela Justiça.

No Supremo Tribunal Federal (STF), está marcada a oitiva de Vorcaro, de Ailton de Aquino e de outros envolvidos no caso, sob a coordenação do ministro Dias Toffoli. A Corte poderá determinar acareações entre investigados, caso haja divergências significativas nas versões prestadas.

O desdobramento desse caso reflete não apenas a investigação criminal em andamento, mas também a complexa relação entre o setor financeiro, o Banco Central e a atuação das autoridades judiciais no enfrentamento de suspeitas que abalam a confiança no sistema financeiro nacional.

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