Líder religioso aliado ao bolsonarismo reforça críticas a decisões do Supremo e desafia a Justiça, em meio a investigações que o envolveram com estratégia de coação e obstrução

O pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo (ADVEC) e figura proeminente no entorno político bolsonarista, voltou a atacar duramente o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), em uma série de manifestações públicas nas últimas semanas após ter sido incluído em investigações e alvo de medidas cautelares da Polícia Federal (PF). Malafaia chegou a acusar Moraes de “tráfico de influência”, colocar em dúvida a legitimidade das ações judiciais e desafiá-lo a “prendê-lo” em vídeo e declarações nas redes sociais.

Contexto das ações contra Malafaia

Malafaia foi alvo de uma operação da Polícia Federal que resultou na apreensão de seu celular e passaporte, na quebra de sigilos bancário, fiscal e telefônico e na proibição de contato com outros investigados, incluindo políticos do PL como Jair Bolsonaro e seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Essas medidas foram autorizadas por decisão de Moraes no âmbito de um inquérito que apura, segundo a PF, a atuação de Malafaia e outros aliados em estratégias de coação e obstrução relacionadas à tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro de 2023.

Em resposta, Malafaia gravou vídeos em que, além de criticar as ações da PF, reforça ataques ao ministro do STF e questiona a atuação do Judiciário. Em um trecho amplamente compartilhado nas redes, ele afirma que “vai ter que me prender para me calar” — expressando uma retórica de confronto com as instituições.

Acusações de “tráfico de influência”

Uma das fortes críticas de Malafaia foi direcionada à atuação de Moraes e sua esposa, que ele acusou publicamente de “tráfico de influência”, termo utilizado para insinuar que decisões judiciais estariam impregnadas de interesses pessoais ou políticos — uma alegação sem respaldo oficial até o momento nas decisões judiciais. Nas redes sociais e em vídeos, Malafaia disse que Moraes estaria usando sua posição para “perseguir” opositores e aliados políticos, acusação que extrapola a crítica judicial comum e repercute nas bases de apoio bolsonaristas.

Embora o termo “tráfico de influência” seja, em geral, um conceito jurídico que se refere à prática de intermediar decisões públicas por meio de influência indevida, as declarações do pastor não se basearam em determinações formais de irregularidade jurídica por parte do ministro ou da esposa dele, mas sim em uma narrativa de antagonismo político.

Retórica de confronto e narrativa de perseguição

Em suas manifestações públicas, Malafaia também tem utilizado termos como “ditador” para se referir a Moraes, ecoando um discurso que o líder religioso já vinha adotando nos últimos anos contra decisões do STF e do Judiciário em geral. Essa linguagem tem sido repetida em vídeos e transmissões ao vivo, nos quais ele também critica o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e as instituições que, segundo ele, contrariariam a liberdade de expressão ou de ação política.

Além disso, o pastor gravou vídeos em inglês que foram, segundo ele, enviados às autoridades nos Estados Unidos, nos quais acusa Moraes de “perseguição religiosa” e faz comparações extremas, elevando ainda mais o tom de sua retórica crítica à Suprema Corte brasileira.

Reações e repercussão

As declarações de Malafaia provocaram repercussão nas redes sociais e entre políticos. Aliados bolsonaristas têm utilizado suas falas para reforçar a narrativa de que decisões judiciais e ações da PF configurariam perseguição política, enquanto críticos argumentam que a retórica do pastor atinge a credibilidade das instituições e pode ser interpretada como incitação ao desacato institucional.

Especialistas em direito constitucional ressaltam que a crítica a decisões do STF é legítima dentro de um debate democrático, mas que acusações sem base jurídica concreta — como tráfico de influência sem investigação formal — podem conflitar com princípios do estado de direito e gerar tensões institucionais desnecessárias.

Desafios e cenário jurídico

Até o momento, não há confirmação de que Moraes ou sua esposa estejam sob investigação por tráfico de influência por qualquer órgão oficial. As medidas judiciais que envolveram Malafaia foram motivadas por indícios recogidos no inquérito que apura interferências indevidas em processos ligados à trama golpista, e têm o ministro como relator devido à sua função no STF.

No plano jurídico, Malafaia enfrenta um processo que pode resultar em novas decisões cautelares ou mesmo em ações penais, dependendo do avanço das investigações e da análise de provas que ligariam sua atuação às supostas estratégias de coação. Enquanto isso, seu discurso de confronto com Moraes e as instituições continua a alimentar polarização no debate público brasileiro.

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