Apreensões fazem parte da Operação Galho Fraco, autorizada pelo STF, que mira supostas irregularidades no uso de recursos públicos, movimentações milionárias e indícios de lavagem de dinheiro

A Polícia Federal (PF) apreendeu nesta quinta-feira (19) os telefones celulares dos deputados federais Sóstenes Cavalcante e Carlos Jordy, ambos do Partido Liberal (PL-RJ), durante o cumprimento de mandados de busca e apreensão no âmbito da Operação Galho Fraco. A ação faz parte de uma investigação mais ampla que apura possíveis desvios de recursos públicos oriundos da Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar (CEAP), uso de empresas de fachada e indícios de lavagem de dinheiro envolvendo assessores e, em tese, parlamentares.

Os mandados cumpridos pela corporação foram autorizados pelo ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), no contexto da Petição 14.918, que também determinou medidas como quebra de sigilo bancário, fiscal, telefônico e telemático dos investigados para aprofundar a apuração.

Mobilização da Operação Galho Fraco

Além da apreensão dos celulares, a PF cumpriu sete mandados de busca e apreensão em endereços ligados aos dois parlamentares, tanto no Distrito Federal quanto no Rio de Janeiro. As diligências incluem também a retirada de outros dispositivos eletrônicos e a coleta de dados que podem conter evidências cruciais para a investigação, como mensagens, registros de comunicação e informações armazenadas em nuvem.

No caso de Sóstenes Cavalcante, a operação também resultou na apreensão de cerca de R$ 430 mil em espécie, encontrados em um imóvel vinculado ao deputado, conforme confirmou a corporação à reportagem.

Segundo a PF, a investigação apura um suposto esquema em que assessores parlamentares e pessoas próximas aos gabinetes de Sóstenes e Carlos Jordy teriam atuado na simulação de despesas por meio de contratos com locadoras de veículos — muitas delas apontadas como empresas de fachada — para justificar reembolsos com recursos públicos. Posteriormente, parte desses valores teria sido movimentada de forma não identificada ou em espécie, o que motivou diligências cautelares mais severas.

Objetivo das apreensões

A apreensão dos celulares dos deputados tem por objetivo permitir que a PF tenha acesso direto às informações contidas nos dispositivos, como conversas, registros, contatos, dados de comunicação e arquivos, que podem auxiliar a esclarecer a dinâmica do suposto esquema investigado e possíveis vínculos entre assessores, empresas e parlamentares.

Nos autos que embasaram as medidas, o ministro Flávio Dino ressaltou a importância de aprofundar a análise das informações eletrônicas para verificar a existência de eventuais pagamentos informais, instruções de operação ou coordenação de atividades investigadas, além de cruzar dados com movimentações financeiras que a PF já identificou como atípicas ou sem origem claramente justificada.

Contexto mais amplo da investigação

A Operação Galho Fraco é um desdobramento da Operação Rent a Car, deflagrada em dezembro de 2024, que também apurou irregularidades no uso de verba pública por meio de contratos com locadoras de veículos. A nova fase das investigações mira especialmente movimentos financeiros e documentos que sugiram desvios, lavagem de dinheiro ou outros crimes contra a administração pública.

Segundo a representação da PF encaminhada ao STF, a investigação identificou movimentações de valores milionários por assessores vinculados aos gabinetes dos dois deputados, muitas vezes incompatíveis com a renda declarada dos envolvidos ou sem justificativa plausível, o que teria motivado a adoção de medidas cautelares como a apreensão de dispositivos e a quebra de sigilos.

Repercussão política

Até o momento, os gabinetes de Sóstenes Cavalcante e de Carlos Jordy não se manifestaram oficialmente sobre a apreensão dos celulares ou sobre as medidas adotadas pela Polícia Federal. O espaço para resposta permanece aberto à reportagem.

A operação também já teve repercussão nas redes sociais, com declarações de Jordy classificando as medidas como “perseguição política”. Em vídeos publicados por ele, o deputado afirmou veementemente que é alvo de uma ação injusta, enquanto destacou que detalhes técnicos da apuração ainda precisam ser esclarecidos.

O que está em jogo

Com a apreensão dos celulares dos deputados, a PF ganha acesso a fontes diretas de informação que podem ser fundamentais para confirmar ou refutar indícios de irregularidade, cruzar dados de comunicação com informações financeiras e avançar nas etapas de coleta de provas. Esses elementos são centrais para verificar se houve, de fato, desvio de recursos públicos, uso de empresas de fachada ou atos de lavagem de dinheiro no âmbito dos gabinetes investigados.

A investigação segue em andamento, com o prazo estabelecido pela Justiça para a conclusão das diligências e análise dos materiais apreendidos, o que poderá resultar em novos desdobramentos nos próximos meses.

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