PF diz que assessores ligados ao PL movimentaram R$ 27 milhões em operações suspeitas
Relatório da PF, anexado à autorização do STF para a Operação Galho Fraco, identifica transações incompatíveis com rendimentos e origem não identificada de recursos

A Polícia Federal (PF) identificou que **assessores ligados a parlamentares do Partido Liberal (PL) movimentaram cerca de R$ 27 milhões em operações financeiras consideradas atípicas e sem origem identificada, no contexto da investigação que embasa a Operação Galho Fraco. A apuração integra o inquérito que também motivou mandados de busca e apreensão contra os deputados Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) e Carlos Jordy (PL-RJ), autorizados pelo ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF).
De acordo com o relatório da Polícia Federal, os valores sob análise somam cerca de R$ 27 milhões e teriam origem não identificada, o que levantou suspeitas de desvio de recursos públicos, lavagem de dinheiro e uso de mecanismos para ocultar a origem dos recursos em operações bancárias classificadas como “não identificadas” no sistema financeiro.
Quem são os investigados e como foram as movimentações
O documento da PF destaca a participação de assessores que possuíam vínculo funcional com os gabinetes dos parlamentares investigados. Entre os principais nomes citados estão:
- Adailton Oliveira Santos, assessor com atuação vinculada ao PL, que teria movimentado mais de R$ 11 milhões entre 2023 e 2024, por meio de transações sem origem claramente identificada.
- Itamar de Souza Santana, assessor ligado a Carlos Jordy, com movimentações que somam quase R$ 6 milhões no mesmo período.
- Florenice de Souza Santana e Andrea de Figueiredo Desiderati, cujas movimentações também foram classificadas como relevantes no relatório policial, com cerca de R$ 4 milhões e R$ 6 milhões, respectivamente.
Segundo o documento, “todos os valores são de origem não identificada”, e há indícios de que as transações são incompatíveis com os rendimentos declarados e com a capacidade econômica dos envolvidos. A PF ressalta que a participação direta de servidores comissionados no exercício de suas funções foi um dos elementos que motivaram o aprofundamento da investigação.
O contexto da investigação e a Operação Galho Fraco
A Operação Galho Fraco foi deflagrada nesta sexta-feira (19) e inclui, além da análise de movimentações suspeitas, mandados de busca e apreensão em endereços ligados aos deputados Sóstenes Cavalcante e Carlos Jordy, tanto no Distrito Federal quanto no Rio de Janeiro. As medidas foram autorizadas pelo ministro Flávio Dino, com base em indícios levantados pela corporação.
Segundo a investigação, os recursos públicos vinculados às cotas parlamentares — verba indenizatória que os deputados podem utilizar para custear despesas inerentes ao mandato — teriam sido direcionados a contratos com empresas que, segundo as autoridades, apresentavam discrepâncias no serviço prestado em relação ao volume de recursos movimentados. A PF identificou discrepâncias nas frotas de veículos das empresas contratadas, com evidências de que os valores pagos eram superiores ao que justificava a efetiva prestação de serviço.
Além disso, a investigação aponta que os repasses financeiros teriam sido realizados de maneira fragmentada e rápida, utilizando frequentes meios eletrônicos de pagamento e transações classificadas de formas que dificultam a identificação de origem ou destino — situação que pode indicar práticas típicas de lavagem de dinheiro ou ocultação de recursos.
Repercussão e reações
A operação desencadeou reações políticas imediatas. Parlamentares do PL têm classificado a ação como politicamente motivada, e líderes da legenda têm articulado respostas institucionais no Congresso. Por outro lado, fontes internas do chamado Centrão reconheceram que os indícios apresentados pela Polícia Federal são relevantes e exigem explicações, especialmente diante da possibilidade de desvio de recursos públicos.
Em paralelo às movimentações suspeitas, na casa de um endereço ligado ao deputado Sóstenes Cavalcante a PF apreendeu cerca de R$ 430 mil em dinheiro vivo, também sob investigação como parte das diligências.
O que está em jogo
A investigação busca determinar se as movimentações financeiras apontadas se relacionam a um esquema de desvio de recursos públicos por meio de contratos com empresas de fachada e se houve efetiva ocultação de origem dos valores. A apuração envolve análise de documentos, quebra de sigilos bancários e fiscais, além da avaliação de mensagens e registros de comunicação extraídos de dispositivos e sistemas usados pelos investigados.
O avanço das investigações poderá resultar em eventuais indiciamentos ou novas medidas judiciais, dependendo de como os elementos reunidos serão interpretados pelas autoridades competentes no STF e pela Polícia Federal.
