MBL e influenciadores de extrema direita por trás da censura ao padre Júlio Lancellotti, diz jornal
Pressão de influenciadores e campanha de ataques políticos teriam motivado a suspensão das transmissões online do religioso, que há décadas defende a população de rua em São Paulo

Uma ampla campanha liderada por membros de grupos de direita, incluindo figuras associadas ao Movimento Brasil Livre (MBL), está no centro da recente decisão da Arquidiocese de São Paulo de restringir a presença digital do padre Júlio Lancellotti, um dos religiosos mais conhecidos do Brasil por seu trabalho com pessoas em situação de rua e suas fortes posições sociais.
De acordo com reportagem exclusiva publicada pelo Diário do Centro do Mundo, a ofensiva começou muito antes da decisão e envolveu ataques constante nas redes sociais e pressão pública sobre a hierarquia católica. Entre os principais responsáveis pela escalada está o influenciador Miguel Kazam, com grande alcance digital, que direcionou críticas duras ao sacerdote e o acusou de supostas “agenda ideológica” e desvios morais.
Segundo a matéria, os ataques não ficaram restritos às redes: Kazam e aliados chegaram a organizar um dossiê com denúncias que foram enviados à Arquidiocese e ao Vaticano, alegando diversos supostos delitos, mesmo após órgãos jurídicos — como o Ministério Público de São Paulo e o Judiciário — terem arquivado investigações anteriores por falta de provas.
A campanha acelerou o desgaste político em torno da figura de Lancellotti junto a setores conservadores. Parlamentares de direita repercutiram as críticas nas esferas públicas e institucionais, incluindo tentativas de enquadrar o padre em comissões parlamentares de inquérito — esforços que não chegaram a prosperar, mas deixaram marcas no debate sobre a atuação do religioso.
Como resultado desse ambiente de pressão, o arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Pedro Scherer, determinou nos últimos dias que Lancellotti suspendesse a transmissão de missas e sua participação ativa nas redes sociais — canais por onde o sacerdote alcançava milhões de seguidores e compartilhava iniciativas sociais.
A decisão reverberou em reportagens internacionais, que destacam o impacto da ofensiva conservadora e a orientação do cardeal Scherer para que o padre interrompa suas atividades digitais, apesar de enfatizarem que a medida foi apresentada internamente como uma orientação de “recolhimento e proteção”.
Padre Júlio Lancellotti, conhecido por décadas de atuação na capital paulista — especialmente na região da Mooca — voltada à defesa de grupos marginalizados, segue celebrando missas presencialmente, mas suspendeu temporariamente suas transmissões online enquanto discute com a Arquidiocese os próximos passos.
A repercussão do caso ultrapassa a Igreja Católica: movimentos sociais e organizações de defesa dos direitos humanos criticam a decisão como um reflexo de polarização política no país e um ataque direto à atuação de líderes que pautam sua atuação pela justiça social.
