Investigação revela que Instituto Conhecer Brasil recebeu R$ 108 milhões da gestão Ricardo Nunes para instalar Wi-Fi em comunidades, em meio a polêmica sobre uso de recursos públicos enquanto produz cinebiografia de Jair Bolsonaro

A produtora associada à cinebiografia de Jair Bolsonaro, Dark Horse, foi contratada pela Prefeitura de São Paulo em um contrato de R$ 108 milhões para fornecer pontos de internet Wi-Fi em comunidades de baixa renda da capital paulista, segundo reportagem do site TecMundo e investigação do Intercept Brasil.

O contrato milionário foi firmado com o Instituto Conhecer Brasil (ICB), uma organização social presidida por Karina Ferreira da Gama, que também é sócia única da empresa Go Up Entertainment, responsável pela produção da cinebiografia sobre Bolsonaro.

De acordo com a investigação, apesar do valor de R$ 108 milhões, apenas 3.200 dos 5.000 pontos previstos de Wi-Fi foram instalados — muitos deles durante o período eleitoral de 2024 — e R$ 26 milhões foram pagos antes da prestação completa dos serviços, o que gerou questionamentos quanto à execução e transparência do contrato.

O ICB sequer tinha experiência anterior em serviços de telecomunicações ou projetos de grande escala. Ainda assim, foi a única entidade a apresentar proposta na licitação realizada em julho de 2024, resultando em um acordo que tem sido alvo de críticas por preços significativamente mais altos do que os praticados por empresas municipais: o custo por ponto cobrado foi de R$ 1.800, enquanto a prefeitura anteriormente pagava cerca de R$ 230 por ponto.

O caso ganhou relevância política e midiática por relacionar a utilização de recursos públicos com uma produção audiovisual que retrata um ex-presidente, mesmo que o contrato da prefeitura não esteja formalmente ligado ao financiamento direto do filme. O longa, com cenas filmadas em inglês e direção estrangeira, tem gerado polêmica nas redes e na imprensa.

A prefeitura, por meio da gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB), afirmou que a contratação foi conduzida por meio de um processo de chamamento público e que a obra não recebeu nenhum recurso diretamente vinculado aos cofres municipais além do contrato de Wi-Fi.

O custo desse contrato e as possíveis irregularidades apontadas, como a antecipação de pagamentos e a execução parcial do serviço, têm levantado debate sobre a utilização de verbas públicas em projetos que tangenciam narrativas políticas e produções culturais com forte conotação ideológica.

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