Flávio Dino alerta para risco de arquivar investigações sobre emendas parlamentares
Ministro do STF afirma que falta de sustentação interna na Corte pode impedir avanço de apurações contra uso indevido de verbas

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio Dino, comunicou recentemente a colegas da Corte sua preocupação de que as investigações em curso sobre o uso de emendas parlamentares possam ser interrompidas ou “engavetadas” por falta de apoio institucional interno.
Dino é relator de ações que contestam a execução de recursos destinados por parlamentares, com destaque para os repasses via “emendas individualizadas” ou “emendas Pix”. Nos últimos meses, o ministro suspendeu o pagamento de cerca de R$ 4,2 bilhões em emendas cujos destinatários não demonstraram transparência — e encaminhou relatórios da Controladoria‑Geral da União (CGU) à Polícia Federal (PF) para investigação de possíveis crimes.
Segundo ele, apesar dos resultados preliminares das auditorias e da detecção de falhas graves — como ausência de planos de trabalho, falta de rastreabilidade dos gastos, e indícios de superfaturamento ou fraude —, a continuidade dos processos depende de garantir sustentabilidade institucional dentro da Corte. Sem isso, as apurações correm risco real de não prosseguir.
O que está em risco
O temor do ministro aponta para:
- Arquivamento de investigações abertas: casos envolvendo centenas de emendas ainda sob análise podem ser parados.
- Impunidade de parlamentares e beneficiários: sem o prosseguimento das investigações, irregularidades podem não ser punidas, mesmo diante de indícios robustos.
- Retrocesso na transparência orçamentária: o desestímulo à fiscalização pode abrir caminho para reencontro da “era da escuridão” nas emendas — com menor rastreabilidade e controle social.
Histórico recente de ação
- Em dezembro de 2025, Dino ordenou à PF que investigasse indícios de crime em emendas Pix destinadas a 19 municípios, após relatório da CGU apontar irregularidades na execução dos recursos.
- A CGU identificou falhas sistemáticas: ausência de comprovação de obras, prestação de contas insuficiente, uso de verbas antes da liberação oficial.
- Apesar dos esforços, Dino admite internamente que trabalha “com a cabeça a prêmio” — o que evidencia a tensão entre a pressão por accountability e o poder político do orçamento.
O que vem pela frente
A permanência ou o arquivamento das investigações dependerá de convergência política e institucional dentro do STF. Um recuo poderia representar vitória simbólica de parlamentares que resistem à fiscalização — com consequências graves para a transparência pública.
Para a sociedade, está em jogo a possibilidade de garantir que os recursos públicos destinados a municípios, saúde, infraestrutura, educação — por meio das emendas — não se percam em desvios e corrupção. O alerta de Dino sinaliza que esse combate não está garantido.
