O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, se manifestou nesta segunda-feira (8) pela primeira vez após o anúncio de que o clã Bolsonaro indicou Flávio Bolsonaro como candidato à Presidência em 2026. Apesar de declarar lealdade ao ex-presidente Jair Bolsonaro, Tarcísio ofereceu um apoio contido — ou como se referiu, “frio” — revelando o desgaste de uma articulação que já era tida como frágil dentro da direita.

“O Flávio vai contar com a gente”, disse ele, mas reforçou que a decisão partiu de Jair Bolsonaro — e não de uma escolha coletiva ou estratégica.

Quem era a aposta — e por que o recuo

Até a semana passada, Tarcísio aparecia como o nome mais bem-visto pelos setores moderados e por parte do mercado para disputar a Presidência — justamente em função de um perfil supostamente mais “técnico” e “governável”.

Mas a imposição do nome de Flávio — sem debate, sem consenso e sobretudo sem base de apoio além do núcleo radical — mudou o cenário. O gesto de Tarcísio indica que o ex-governador foi escanteado, e sua aceitação de Flávio soa mais como obediência a uma ordem familiar do que como convicção política.

O recado que o “apoio frio” envia

Esse tipo de apoio ambíguo tem significado simbólico:

• Mostra que o nome de Flávio não consegue unir a direita — nem mesmo entre quem era cotado legitimar uma candidatura competitiva.
• Expõe fissuras dentro do campo conservador: a velha articulação de alianças viáveis dá lugar a lealdades por imposição, sem base eleitoral ou projeto claro.
• Indica que a direita vassalocrata continua dependente de sobrenomes — e que sem esse sobrenome, qualquer “unidade” desanda.

Para onde vai a direita — e o que isso significa para a democracia

Para quem aposta na reconstrução democrática, esse tipo de crise interna é uma oportunidade clara. A derrota simbólica de Tarcísio e a imposição de Flávio revelam que o projeto autoritário está fragilizado, desalinhado e sem capacidade de reconstituição ampla.

Mas também é um alerta: as disputas internas, os ressentimentos, as imposições de clã mostram que o bolsonarismo não desaparece com um fiasco eleitoral — ele pode se transformar, se recompor, se realinhar. Se a direita estiver dividida, é hora de a esquerda e os movimentos populares ocuparem o espaço com clareza, memória e compromisso com soberania e justiça social.