Busca da PF nas dependências da antiga Lava Jato desenterra arquivos de 2008; documento pode conter gravações e escutas que envolvem magistrados e procuradores

A recente operação da Polícia Federal (PF), autorizada pelo ministro Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli, voltou os olhos para a chamada “caixa amarela” da 13ª Vara Federal de Curitiba — antigo endereço da Operação Lava Jato e palco da carreira do ex-juiz Sergio Moro. A partir de documentos, delações e depoimentos que remontam a 2008, a justiça tenta acessar um acervo sigiloso que pode conter gravações e escutas clandestinas que envolvem autoridades do Judiciário.

O que está em jogo com a “caixa amarela”

De acordo com as denúncias feitas por Tony Garcia — ex-deputado estadual do Paraná e delator — a “caixa amarela” conteria material sensível: gravações ambientais, escutas, anotações e demais provas relacionadas a investigações de magistrados, procuradores e autoridades com foro especial. Ele afirma que esses procedimentos teriam sido feitos a pedido de Moro, ainda no contexto do Consórcio Garibaldi — antecedente da Lava Jato.

Na ordem de busca e apreensão, Toffoli especifica a necessidade de apreender “caixas e afins — em especial a caixa de arquivo amarela relativa aos autos de 2008”, junto com processos, delações e mídias históricas. A apreensão visa levantar os documentos que não foram remetidos à Corte, como determinava decisão anterior.

Reação de Moro e de sua defesa

Em nota, a defesa de Moro classifica as acusações como originadas em um “relato fantasioso de Tony Garcia” e afirma que nenhum indício concreto de irregularidade jamais foi apontado nos processos que resultaram na condenação do ex-deputado. Segundo a nota, “essas diligências apenas confirmarão que os relatos são falsos”.

Moro também questiona a competência do STF para julgar o caso, alegando que os supostos atos não ocorreram quando exercia mandato público.

Implicações políticas e institucionais

Se as gravações e demais materiais recuperados confirmarem irregularidades — grampos clandestinos, manipulação de processos, espionagem de autoridades —, o desmonte simbólico da Lava Jato será ainda maior. O alvo não é apenas a reputação de Moro, mas a própria narrativa de moralidade judicial construída ao longo dos anos por grande parte da mídia.

Além disso, a investigação ressalta como varas e tribunais podem esconder práticas estruturais de abusos contra garantias fundamentais — como o sigilo de comunicações e o direito à ampla defesa — sem controle social ou institucional adequado.

Para a esquerda, para movimentos de direitos civis e para quem defende democracia, a ação da PF representa uma chance real de responsabilização e transparência. Já para quem apoiava a Lava Jato, pode parecer uma investida de retaliação: em qualquer caso, o resultado deve reverbera no sistema de justiça, nas prisões políticas e nos debates sobre impunidade e seletividade.

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