Esquema movimentava milhões em imóveis, carros e contas bancárias; operação “Falso Mercúrio” mira coletores, intermediários e beneficiários da facção

Nesta quinta-feira (4/12), a Polícia Civil de São Paulo deflagrou uma operação contra uma quadrilha acusada de lavar dinheiro para o PCC. A investigação aponta que o grupo ocultava valores oriundos de tráfico de drogas, estelionato e jogos de azar por meio de um esquema sofisticado de “serviços financeiros”.

Foram cumpridos 54 mandados judiciais — sendo seis de prisão e 48 de busca e apreensão — na capital e na Grande São Paulo. Mais de 100 policiais civis do Departamento Estadual de Investigações Criminais (DEIC) atuaram nesta manhã.

Além das prisões e buscas, a Justiça determinou o sequestro de 49 imóveis, de três embarcações e de 257 veículos vinculados aos suspeitos. Também foram bloqueadas contas bancárias de 20 pessoas físicas e 37 empresas.

Estrutura do esquema

As investigações identificaram três núcleos distintos na quadrilha:

  • Coletores: responsáveis por arrecadar dinheiro ilícito.
  • Intermediários: encarregados de movimentar e ocultar os valores.
  • Beneficiários finais: aqueles que recebiam os recursos já “lavados”, vindos da fonte criminosa.

Batizada de “Falso Mercúrio” — numa alusão ao deus romano do comércio e da trapaça — a operação foi classificada pela polícia como uma das maiores já realizadas contra lavagem de capitais no estado. Segundo o secretário de Segurança Pública, Osvaldo Nico Gonçalves, a ação representa um golpe duro contra a estrutura financeira da facção.

O delegado do DEIC, Ronaldo Sayeg, destacou que o objetivo da operação não é só prender envolvidos, mas “descapitalizar” a organização criminosa e recuperar ativos. Uma vez bloqueados os bens, o Estado avança sobre os recursos que abasteciam o crime.

Significado político e social da operação

Para além do impacto policial, a operação é um aviso claro de que o Estado pretende desarticular as bases econômicas de organizações criminosas — não apenas as células de tráfico ou violência. A criminalidade já não se sustenta apenas com armas e domínio territorial: hoje, muitos desses grupos operam como empresas, com lavagem de dinheiro, investimentos e alto padrão de vida. Essa operação expõe esse modelo e sinaliza que ele pode ser desmontado.

Também é uma resposta ao debate sobre financiarização do crime no Brasil — quando facções transformam o lucro do tráfico em patrimônio, imóveis, veículos, empresas legítimas, e passam a operar como grupos econômicos com fachada legal. Derrubar esse modelo é parte essencial da luta pela segurança popular e por justiça social.

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