Ação determinada pelo ministro Dias Toffoli busca documentos e mídias que podem revelar gravações e delações forjadas sob o comando de Moro

Nesta quarta-feira (3), a Polícia Federal iniciou mandado de busca e apreensão na 13ª Vara Federal de Curitiba, ordenado pelo ministro Dias Toffoli do STF. A vara, berço histórico da Operação Lava Jato, foi comandada por anos pelo ex-juiz e atual senador Sergio Moro — agora alvo de investigações graves que ameaçam desestabilizar todo o legado da operação anticorrupção.

A decisão se baseia em denúncias feitas pelo ex-deputado estadual e delator Tony Garcia — que afirma ter sido usado como “agente infiltrado” por Moro em delações e gravações clandestinas no contexto do caso Caso Banestado, de 2004. Segundo Garcia, a 13ª Vara guarda arquivos, mídias e documentos que comprovam as irregularidades — porém, a Justiça federal paranaense jamais os encaminhou ao STF. Por isso, Toffoli autorizou a PF a inspecionar in loco todo o acervo da vara.

A operação não se limita a uma varredura simbólica. O mandado exige análise de processos, mídias, anexos e quaisquer objetos ligados aos inquéritos e delações assinadas durante o comando de Moro. Desde outubro de 2025, o STF já havia concedido autorização para diligências. A atual ação, portanto, representa o avanço mais concreto da investigação — e dispara um alerta sobre o alcance dos supostos desvios.

Fontes que acompanham o processo dizem que os protestos de advogados próximos a Moro e a falta de envio voluntário dos autos são indícios da necessidade da medida. Para além de Machado de bastidores — a operação da PF abre a possibilidade de reconstruir o que a Lava Jato guardou, transformou em prova — ou ocultou, mantendo suas falhas longe do escrutínio público.

Contexto e acusações

  • Segundo Tony Garcia, ainda em 2004, como parte de um acordo de delação no Caso Banestado, ele teria sido forçado por Moro a gravar autoridades e investigar figuras com foro privilegiado — entre eles desembargadores, ministros, políticos influentes — em tarefas que, afirma, tinham pouco ou nada a ver com o caso original.
  • Os documentos e mídias que poderiam comprovar essas gravações e outras irregularidades estariam arquivados na 13ª Vara, sem acesso externo — o que justificou a autorização dada pelo STF.
  • O fato de o processo tramitar no STF — em razão de prerrogativa de foro — foi confirmado por Toffoli, que recusou o pedido da defesa de Moro para remetê-lo a instância inferior.

Reações e reflexos políticos

Em nota, a defesa de Moro classificou as acusações como baseadas num “relato fantasioso”. Afirmou não ter tido acesso aos autos do inquérito e rejeitou qualquer irregularidade relativa aos processos da Lava Jato em que atuou.

Mas o significado da operação vai além da torção de fatos isolados. Ao autorizar a PF a vasculhar a antiga vara da Lava Jato, o STF envia um recado claro: nem instituições, nem “onças pretas” da Justiça — nem mesmo a Lava Jato — estão acima da lei e da supervisão. A credibilidade da Operação, construída com holofotes, agora enfrenta o escrutínio mais profundo que poderia haver: o das próprias origens dos arquivos.

Se o que estiver escondido nas pastas, mídias e documentos for comprovado — abuso de autoridade, delações manipuladas, gravações ilegais — não será apenas parte do passado que desaba: será o desmonte de um mito institucional que por anos sustentou o discurso anticorrupção seletiva.

A operação de hoje pode marcar o início de um processo de reparação histórica — para que o Brasil conheça, definitivamente, a verdade que por trás da Lava Jato foi forjada.

Fonte: Conjunto de reportagens da CartaCapital, Poder360, Brasil247, DCM e demais veículos que acompanharam a operação.

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