Câmara de BH aprova em 1º turno projeto que manda moradores de rua de volta às cidades de origem
Proposta “De Volta para Minha Terra”, de vereador do PL, critica permanência de pessoas em situação de rua na capital, enquanto movimentos de direitos humanos denunciam política higienista e impessoal

A Câmara Municipal de Belo Horizonte aprovou em 1º turno o Projeto de Lei 227/2025, que institui o programa “De Volta para Minha Terra” e prevê o envio de pessoas em situação de rua da capital mineira de volta às suas cidades de origem — caso tenham vínculos familiares ou comunitários lá.
A proposta é de autoria do vereador Vile Santos (PL) e foi aprovada com 29 votos favoráveis e oito contrários nos artigos de 1º ao 5º, e 30 a 8 no artigo 6º. Caso avance, segue para o 2º turno e depois para sanção ou veto do prefeito.
O que prevê o projeto
O programa se destina a pessoas em vulnerabilidade social que manifestem o desejo expressamente de retornar à cidade de origem. Entre as ações previstas estão: suporte logístico, emissão de documentos, auxílio no transporte e articulação com municípios de destino.
Na justificativa, o vereador defendeu que “muito mais chance de recuperação” existe quando a pessoa está perto da família e em ambiente de acolhimento comunitário. Ele afirmou que, segundo o Censo Pop Rua 2022 da Prefeitura/UFMG, “58,5% das pessoas em situação de rua em BH não são da capital”.
Críticas e alerta
Para os movimentos sociais e parlamentares de esquerda, o projeto significa um retrocesso nas políticas de assistência:
- A vereadora Luiza Dulci (PT) classificou a proposta como “higienista” e “inócua”, apontando que os instrumentos existentes já preveem retorno voluntário — e que a permanência das pessoas em situação de rua trata-se de questão social e não de “remoção”.
- O fato de condicionar o benefício ao desejo de retorno coloca a responsabilidade sobre quem sofre a situação de rua, e transforma o acolhimento em um “depósito” de pessoas temporariamente inconvenientes — discurso que remete a práticas de exclusão e invisibilização.
- A lógica da “volta à terra natal” pode funcionar como política de “empurrar o problema” para outras cidades, aliviando responsabilidades do município.
Por que isso importa
Do ponto de vista de justiça social e democracia:
- O papel da cidade não é apenas “encaixar ou devolver” pessoas em situação de rua, mas garantir moradia digna, circulação, cidadania plena e acesso a serviços — sem estigmas ou punições por vulnerabilidade.
- Projetos como esse reforçam a militarização simbólica da cidade: “quem não é de BH” pode ser empurrado para fora — rompendo com a lógica de acolhimento universal.
- A aprovação em primeira instância evidencia que a agenda política do PL e da nova direita vassalocrata está se orientando para “limpeza urbana” e não para políticas estruturais de habitação, emprego e dignidade.
Conclusão
A aprovação do PL 227/2025 em Belo Horizonte representa uma virada nociva nas políticas de moradia e assistência: não se trata apenas de “voluntaridade” — mas de deslocamento institucional de pessoas vulneráveis. Para nós, que lutamos por igualdade, soberania e democracia, é hora de denunciar esse tipo de medida que trata vítimas de pobreza como “problemas a deslocar”. A cidade para todos ou para poucos? A resposta está nas ruas, nos abrigos — e na mobilização popular.
