Deputado do PL tentou elevar garantia do Fundo Garantidor de Créditos para R$ 1 milhão meses antes do colapso do Banco Master, aponta investigação
Documentos mostram que parlamentar propôs mudança drástica na cobertura do FGC pouco antes da falência do Banco Master, levantando suspeitas de favorecimento ao setor financeiro em plena crise

A cena política e financeira brasileira viveu nos bastidores um movimento de alto risco: um deputado da bancada do Partido Liberal apresentou proposta para elevar a cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) de R$ 250 mil para R$ 1 milhão por investidor pouco antes do colapso do Banco Master. A iniciativa aparece em documentos sob investigação e acende o alerta sobre um possível conluio entre bancário, política e regulação no momento em que o sistema estava à beira do colapso.
Pelos registros, a proposta foi articulada meses antes do fim abrupto do Banco Master — instituição que acumulava sinais de fragilidade e cujos créditos foram massivamente adquiridos por fundos de previdência pública. O deputado em questão usou sua influência para pautar no Congresso um projeto que, se aprovado, teria ampliado a garantia dos depósitos em instituições financeiras numa proporção inédita, justamente quando a instabilidade do setor bancário se avolumava.
Especialistas ouvidos pela reportagem afirmam que elevar a cobertura do FGC para R$ 1 milhão sem reestruturação regulatória profunda e sem fator de risco correspondente é “receita para moral hazard”: instituições financeiras teriam incentivo para assumir riscos extremos sabendo que a garantia pública será maior — ou seja, o contribuinte pagaria a conta. O fato de o movimento ter ocorrido poucos meses antes da liquidação extrajudicial do Banco Master lança suspeitas de que havia quem estivesse antecipando proteção para o sistema bancário ou para determinados atores.
Por outro lado, o deputado defende que sua proposta visava “proteção ao pequeno investidor” diante de sinais de desequilíbrio no mercado de crédito. Em seu discurso, sustentava que o valor de R$ 250 mil estava defasado diante da inflação e da evolução dos produtos financeiros. Mas fontes regulatórias afirmam que a alteração foi apresentada “num momento inoportuno”, quando era público que o Banco Master acumulava risco sistêmico e contava com apoio estatal indireto.
O cenário se agrava porque, após a falência do Banco Master, o setor financeiro — e especialmente bancos de risco — ficou sob escrutínio, e a revelação da proposta coloca luz sobre como parte do Legislativo atuou para moldar o ambiente regulatório em véspera de crise. A correlação temporal entre a articulação para ampliar a cobertura do FGC e o colapso da instituição financeira cria ambiente de dúvida: quem ganhou com essa tentativa de mudança e quem poderia estar evitando perdas maiores?
Para o campo progressista e crítico, esse episódio se transforma em novo alerta para a conjunção de poder político, financeiro e regulação no Brasil. A proposta de elevar a cobertura do FGC para R$ 1 milhão aparece como peça de engrenagem de um sistema que protege bancos antes de proteger pessoas — exatamente o oposto do que deveria ocorrer em projetos de justiça social e estabilidade econômica. A resposta deve ser firme: investigar, responsabilizar e, sobretudo, garantir que o contribuinte não pague a conta de bancos em risco nem de manobras regulatórias.
No fim das contas, a proposta interrompida de alterar a cobertura do FGC revela que a “crise invisível” que antecedeu o Banco Master não se limitou ao setor financeiro — envolveu política, lobby e decisões que poderiam ter sido evitadas. O Brasil tem agora a chance de transformar o escândalo em institucionalização de controle: reforçar a regulação, blindar o FGC para os devedores, não para quem assume risco deliberadamente, e garantir que o Estado atue como escudo dos cidadãos — não dos banqueiros.
