Câmara é acusada de acobertar fuga de Ramagem, e votação do PL Antifacção pode ser anulada
Deputados denunciam que Ramagem votou o PL Antifacção mesmo já estando nos Estados Unidos, e apontam omissão da Câmara que pode levar à anulação da votação

A crise política ganhou um novo capítulo explosivo: deputados apontam que a Câmara encobriu a fuga de Alexandre Ramagem para os Estados Unidos ao permitir que ele votasse à distância o PL Antifacção, mesmo estando fora do país e sem missão oficial autorizada. O episódio abre caminho para que a votação do PL Antifacção seja anulada, desencadeando uma batalha jurídica e institucional que o bolsonarismo tenta desesperadamente evitar.
Ramagem, condenado pelo STF por participação na tentativa de golpe, estava proibido de deixar o Brasil e obrigado a entregar seus passaportes. Ainda assim, conseguiu cruzar a fronteira por terra, embarcar para os EUA e se instalar em um condomínio de luxo na região de Miami. Enquanto isso, na Câmara, seguia registrado como parlamentar “em exercício”, com direito a votar normalmente.
A denúncia ganhou força quando veio à tona que o deputado participou remotamente da votação do PL Antifacção, projeto que amplia punições penais e tem sido tratado pelo campo conservador como bandeira eleitoral. A oposição reagiu imediatamente: segundo o regimento da Casa, não é permitido votar do exterior sem autorização formal da Mesa Diretora.
A própria Câmara admitiu que não recebeu comunicação oficial da viagem de Ramagem, não autorizou missão e não liberou qualquer atividade institucional fora do país. Mesmo assim, manteve o registro de presença e validou o voto. A omissão, segundo parlamentares, “funciona como chancela indireta” para que um condenado por golpe, em descumprimento de decisão judicial, influenciasse uma votação estratégica.
Para a bancada progressista, isso não é erro burocrático: é falha institucional grave. Deputados já articulam medidas para anular a votação, sob o argumento de que a legitimidade do processo foi comprometida por um voto irregular. O PSOL, por sua vez, voltou a pedir ao STF a prisão imediata de Ramagem, alegando fuga comprovada e desrespeito às restrições impostas pelo ministro Alexandre de Moraes.
O caso atinge diretamente o discurso moralista do campo conservador. Enquanto clamam por “rigor máximo” nas ruas, ignoram flagrantes descumprimentos de decisões judiciais quando o beneficiado é um dos seus. A fuga de Ramagem — combinada ao silêncio conveniente da Mesa da Câmara — transforma o PL Antifacção numa das maiores contradições políticas do ano: um projeto que se pretende combater o crime, mas nasce marcado por um ato de desrespeito institucional.
A disputa agora é dupla: no Judiciário, sobre a prisão de Ramagem; no Legislativo, sobre a validade da votação. E cresce o entendimento de que a votação do PL Antifacção pode ser anulada — não por divergência política, mas por violação do próprio regimento da Casa.
Se isso se confirmar, o episódio pode virar o maior tiro pela culatra do bolsonarismo desde o fracasso da tentativa de golpe.

Seria ótimo se fosse anulada.