Pela primeira vez na história, militares brasileiros são presos por participação em golpe de Estado
Prisões de Heleno, Paulo Sérgio, Garnier e Braga Netto rompem 140 anos de impunidade e expõem o colapso do pacto militar que sempre blindou quartéis

A história virou de cabeça para baixo nesta terça-feira (25). Pela primeira vez desde a Proclamação da República, militares de alta patente foram presos e condenados por participação direta em uma tentativa de golpe de Estado. O cerco comandado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, rompeu mais de um século de blindagem e colocou atrás das grades nomes que, até ontem, eram intocáveis no jogo de poder brasileiro.
O general Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, o general Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa, e o almirante Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha, foram presos após o trânsito em julgado das condenações do núcleo militar da trama golpista. Junto deles, também cumpre pena o general Braga Netto, que já estava em cela especial desde o fim do ano passado.
As prisões aconteceram em instalações militares — como prevê a lei — mas não diminuem a dimensão histórica do momento. A muralha da impunidade militar caiu.
É o fim de um ciclo que começou com Floriano Peixoto, passou por 1964, atravessou a transição democrática e sustentou a arrogância política dos quartéis até o bolsonarismo.
A frase-chave “pela primeira vez militares são presos por golpe” resume o terremoto institucional: o Brasil finalmente rompeu a doutrina silenciosa que permitia que generais tramassem, destabilizassem ou participassem de rupturas sem jamais serem responsabilizados.
Para o campo progressista, a cena é emblemática: não se trata apenas de punir culpados, mas de reconstruir a relação civil sobre os quartéis, desmontando o mito de tutela militar sobre a democracia. A responsabilização de generais enterra o discurso vassalocrata da extrema-direita e devolve ao país um horizonte de soberania sobre suas Forças Armadas.
