Mensagens no grupo de WhatsApp do condomínio Solar de Brasília mostram clima de alívio e festa após a prisão preventiva de Jair Bolsonaro pela Polícia Federal

A queda de Jair Bolsonaro não mobilizou apenas instituições, Polícia Federal e STF. No condomínio Solar de Brasília, onde o ex-presidente cumpria prisão domiciliar e de onde saiu preso em caráter preventivo na manhã deste sábado, o clima entre parte dos vizinhos foi de alívio e, em muitos casos, de comemoração aberta. Em um dos grupos de WhatsApp do condomínio, moradores deram o tom do dia com recados carregados de ironia: “Bom dia. Tem lenha na minha casa”, escreveu um deles. Outro respondeu em seguida: “Hoje tá bom pra fazer um churrasco”.

As mensagens surgiram pouco depois de Bolsonaro deixar o imóvel escoltado por agentes da Polícia Federal. Em seguida, um vizinho — que mora na mesma área do ex-presidente — avisou que faria uma festa antecipada de aniversário: “Hoje é véspera do meu aniversário. Adoro comemorar antes. Vamos fazer uma festa aqui em casa. Espero não incomodar os vizinhos”. Na sequência, uma moradora postou um vídeo de Caetano Veloso cantando “É Hoje”, com o verso “Diga, espelho meu, se há na avenida alguém mais feliz que eu”. Tudo sem citar diretamente o nome de Bolsonaro, mas deixando evidente o motivo do bom humor.

Do lado de fora, nenhum mar de camisetas verde-amarelas, nenhuma invasão ensaiada. Ao contrário da tentativa de golpe em 8 de janeiro, a prisão de Bolsonaro aconteceu em meio a uma calma quase cirúrgica no condomínio: nada de carreata, nada de buzinaço, nenhuma vigília numerosa. A movimentação ficou restrita à entrada e saída de viaturas da PF, enquanto apoiadores e críticos se deslocaram para a Superintendência da Polícia Federal em Brasília, onde o condenado por tentativa de golpe agora cumpre prisão preventiva em uma sala de Estado.

O contraste é simbólico. O homem que tentou incendiar o país com discurso de ódio, vassalocracia e golpismo termina o dia vendo o próprio condomínio virar metáfora do Brasil real: vizinhos que já não o temem, não o reverenciam e, em muitos casos, querem distância. Os churrascos e piadas nas conversas internas mostram um desgaste profundo da imagem de Bolsonaro, que já vinha acumulando rejeição desde a pandemia, as denúncias de corrupção, o incentivo à violência política e, por fim, a condenação por liderar a trama golpista.

Politicamente, o recado é ainda mais duro para o bolsonarismo: se até os vizinhos — gente que convive com a presença diária do ex-presidente, com segurança reforçada, trânsito afetado e tensão permanente — comemoram a prisão, é porque o capital simbólico do “mito” desabou. A narrativa de vítima perseguida perde força diante do fato concreto de que parte da população sente alívio ao vê-lo finalmente responsabilizado. Não é apenas o STF, não é só a Polícia Federal: o entorno social de Bolsonaro também parece ter decidido que já passou da hora de virar a página.

No fim, o “vai ter churrasco” dos vizinhos entra para a história como a trilha sonora popular da prisão de Jair Bolsonaro. Enquanto a família se agarra ao vitimismo e tenta culpar Alexandre de Moraes por tudo, uma parte do Brasil observa à distância, acende a churrasqueira, coloca Caetano pra tocar e celebra, mesmo que discretamente, a mensagem que ecoa dessa prisão: quem conspirou contra a democracia, quem tentou arrastar o país para o abismo, agora precisa responder por isso — nem que, para marcar o momento, o brinde venha na forma de picanha, risadas contidas e um grupo de WhatsApp em festa.

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