Em live após a prisão preventiva de Jair Bolsonaro, senador acusa Alexandre de Moraes de querer “matar” o ex-presidente

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) reagiu à prisão preventiva do pai com o que a família Bolsonaro sabe fazer de melhor: vitimismo calculado, chantagem emocional e ataque frontal ao Supremo Tribunal Federal. Em live neste sábado, ele afirmou que “se meu pai morrer, a culpa é sua”, dirigindo-se diretamente ao ministro Alexandre de Moraes, responsável pela decisão que mandou Jair Bolsonaro para a prisão preventiva após violação da tornozeleira eletrônica e risco de fuga identificado pela Polícia Federal.

A fala de Flávio não é um desabafo isolado. É parte de uma estratégia de transformar um réu por trama golpista em mártir religioso. O senador acusou Moraes de “criminalizar o livre exercício da crença” e disse que a vigília convocada em frente ao condomínio de Bolsonaro seria apenas um ato de oração, não uma mobilização política que pudesse obstruir a ação da Justiça. A decisão de Moraes, porém, aponta exatamente o contrário: a convocação de multidões em cenário de tensão, somada à tentativa de violar a tornozeleira, configura risco concreto à execução da prisão e à própria segurança pública.

Em tom dramático, Flávio resgatou o caso de Cleriston Pereira da Cunha, o “Clezão”, bolsonarista do 8 de janeiro que morreu preso, para tentar colar em Moraes a imagem de carrasco: segundo ele, o ministro teria ignorado pedidos de tratamento médico e deixado o manifestante morrer, insinuando que o mesmo poderia ocorrer com Jair Bolsonaro. “Você quer matar o Bolsonaro, Alexandre de Moraes?”, disparou o senador, buscando inflamar a base radical e deslocar o debate do centro do problema: as sucessivas violações da lei cometidas pelo ex-presidente.

O discurso também tenta inverter a lógica da responsabilidade. A prisão preventiva de Jair Bolsonaro foi autorizada por Moraes após pedido da Polícia Federal e com aval da Procuradoria-Geral da República, com base em elementos objetivos: plano de fuga, manipulação da tornozeleira eletrônica e convocação de atos potencialmente tumultuários. Flávio omite tudo isso e finge que o pai é um fiel injustiçado, preso por rezar. O que está em jogo, porém, não é religião, é poder: a tentativa de manter um condenado por tentativa de golpe acima da lei, usando medo, fé e desinformação como escudo político.

Ao insistir que “se meu pai morrer, a culpa é sua”, Flávio tenta deslocar para o STF qualquer consequência da própria irresponsabilidade do clã. Foi Jair Bolsonaro quem violou a tornozeleira, quem alimentou ambiente de tensão, quem liderou uma ofensiva contra a democracia que resultou em condenação pesada. A decisão do Supremo é uma resposta institucional a esse histórico, não um capricho pessoal de Alexandre de Moraes. O ataque do senador, portanto, mira menos na defesa da saúde do pai e mais na construção de um novo enredo: o do “preso político” perseguido por um Supremo que, na narrativa vassalocrata, seria todo-poderoso e cruel.

No fundo, a live de Flávio revela o desespero de uma família que perdeu o controle da narrativa e agora tenta, às pressas, transformar derrota judicial em combustível político. Mas, diante dos fatos – confissão de violação da tornozeleira, risco de fuga, mobilização de vigílias para tensionar as instituições –, a frase “se meu pai morrer, a culpa é sua” volta como um bumerangue: a responsabilidade não é do ministro que aplica a lei, e sim de quem passou anos desafiando a Constituição, atacando a democracia e brincando com a própria sorte.

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