Ramagem deixa o país em meio a condenação por participação na trama golpista, provocando crise interna no PL-RJ, que agora vê sua estratégia de segurança pública e sucessão estadual em xeque.

A decisão de Alexandre Ramagem de deixar o país em momento crítico trouxe à tona fissuras profundas dentro do PL e irritou frontalmente Jair Bolsonaro. A situação, descrita por aliados como “humilhação institucional”, abre uma crise interna que ameaça o plano da direita para 2026 — especialmente no estado do Rio de Janeiro.

Ramagem, condenado pelo Supremo Tribunal Federal a 16 anos, um mês e 15 dias de prisão por participação na tentativa de golpe, estaria fora do país, segundo relatos de veículos de imprensa. A fuga, interpretada como violação das cautelares que o impediam de deixar o Brasil, provocou reação imediata dentro do partido governista.

Bolsonaro, que havia indicado Ramagem para disputar a prefeitura em 2024 como porta-voz da pauta de segurança, sente-se desautorizado. A mensagem subliminar que a saída transmite — de um candidato à segurança em fuga — fragiliza o discurso de “lei e ordem” que o ex-presidente tenta manter vivo. No PL-RJ, a pergunta agora é difícil de ignorar: quem será o novo nome ligado à segurança para 2026? Pacífico é que Ramagem está fora dos planos.

Além disso, a Câmara dos Deputados informou que não foi comunicada sobre eventual viagem ou missão internacional de Ramagem, o que reforça o clima de suspeita e omissão institucional.

Para a esquerda, o episódio não é meramente mais um escândalo de impunidade: revela o quanto a direita ainda depende de narrativas vazias de segurança e macho armado, enquanto suas lideranças fundamentais se mostram fragilizadas ou em fuga. Se o PL não for capaz de reagir com coerência, a base eleitoral que ele tenta consolidar pode virar, rapidamente, motivo de desistência ou migração.

Agora o PL está diante de dois desafios simultâneos: primeiro, reconstruir um candidato-âncora da segurança para o estado do Rio; segundo, convencer o eleitorado de que ele está pronto para persistir na “esquerda da estrutura”, ou seja, fora dos domínios do autoritarismo bolsonarista — uma contradição difícil de sustentar. Para Bolsonaro, esse é um teste de força: mantém ele o controle ou verá seu aparato eleitoral começar a se desintegrar por dentro?

Não há atalhos. Se o partido quiser evitar naufrágio em 2026, precisa mostrar que segurança pública não é marketing de fuga nem presidência em trânsito: é compromisso. E que o projeto nacional da extrema-direita não se sustenta apenas em tiros de efeito, mas em responsabilidade, soberania e Estado de direito — princípios que Ramagem deixou claramente à margem ao optar pela fuga.

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