Alterações feitas pela direita no projeto acirraram a disputa entre Câmara e Planalto, e Motta tenta transformar o embate em vitrine política para 2026

A aprovação do PL Antifacção em versão alterada pela maioria conservadora da Câmara dos Deputados provocou forte reação do governo Lula e desencadeou uma ofensiva pública do presidente da Casa, Hugo Motta. O deputado passou a acusar o Planalto de criar “falsas narrativas” sobre o projeto, numa tentativa evidente de reposicionar a Câmara como protagonista da pauta de segurança e impor desgaste político ao Executivo.

O projeto enviado pelo governo tinha como objetivo fortalecer a inteligência, unificar ações federativas e atingir financeiramente as facções criminosas. Durante a tramitação na Câmara, porém, sofreu modificações profundas que, segundo integrantes do governo, distorcem o desenho original e criam insegurança jurídica. Mesmo assim, o texto final foi aprovado com folga pela base de direita, que passou a apresentar a medida como um avanço histórico no combate ao crime.

Após Lula criticar publicamente a desfiguração do projeto, afirmando que a nova redação enfraquece o combate às facções, Motta reagiu elevando o tom. O presidente da Câmara acusou o governo de desinformar a população e insinuou que o Planalto tenta manipular a opinião pública para justificar sua orientação contrária ao texto. Em meios políticos, a fala de Motta é interpretada como esforço para transformar uma derrota do Executivo em capital político para o próprio Legislativo.

Nos bastidores, aliados de Lula afirmam que Motta tenta usar o PL Antifacção como vitrine para reforçar sua projeção nacional e consolidar a direita como dona da pauta da segurança pública, tema que historicamente mobiliza seu eleitorado. A escolha de um relator alinhado ao bolsonarismo e a condução acelerada da votação reforçam a percepção de que a pauta foi moldada mais pela disputa política do que por critérios técnicos.

Agora, o governo concentra sua articulação no Senado, onde pretende reconstruir pontos essenciais do projeto original. A estratégia é retomar dispositivos que fortalecem o trabalho da Polícia Federal, corrigir brechas que possam gerar judicialização e devolver ao texto sua lógica de política de Estado. A expectativa no Planalto é de que, na Casa revisora, haja mais espaço para diálogo e menos pressão política.

Enquanto isso, Motta segue tentando enquadrar o governo como responsável pela crise em torno da proposta, apresentando-se como defensor da “verdadeira resposta ao crime organizado”. A disputa, que começou como debate legislativo, já se transformou em batalha pela narrativa pública — e antecipa o ambiente de confronto que deverá marcar os próximos meses entre Executivo e Legislativo.

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