Em tarde tensa, a Câmara dos Deputados aprovou o texto-base do projeto de combate ao crime organizado por 370 votos a 110 — as versões do relator foram seis, o governo declarou derrota política e crescimento do poder do Legislativo

A tarde desta terça-feira marcou um momento decisivo no Congresso Nacional: a Câmara dos Deputados aprovou o texto-base do PL Antifacção (PL 5.582/2025), com placar expressivo de 370 votos favoráveis, 110 contrários e 3 abstenções.

O relator, Guilherme Derrite (PP-SP), precisou apresentar seis versões do parecer para aprovar o substitutivo final e teve de ceder em vários pontos — o que provocou desgaste político do governo Luiz Inácio Lula da Silva e evidenciou que o Legislativo reassume protagonismo em temas de segurança pública.

Principais mudanças e endurecimentos

  • O projeto amplia significativamente as penas para integrantes de facções criminosas, com faixa de 20 a 40 anos para membros comuns, e até 66 anos para líderes.
  • A proposta autoriza o bloqueio de bens dos investigados por organizações criminosas, mesmo antes do trânsito em julgado em alguns casos.
  • Apesar de o governo defender que o texto original previa competência reforçada para a Polícia Federal, a versão aprovada retirou ou modificou trechos críticos para a PF, levando integrantes da base a afirmarem que a lei “dificulta ações da PF”.

Tensões políticas e consequências

A votação não apenas aprovou o texto, mas escancarou um conflito de poder: o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), tomou a dianteira ao garantir a pauta, enquanto o governo via sua própria matéria transformada fora de sua visão. O resultado gerou críticas internas da base.

Para os movimentos de justiça social, o perigo é claro: endurecer as leis sem reforçar políticas de prevenção, educação e redução de desigualdades pode transformar o sistema penal num instrumento ainda mais forte de exclusão. O país em preparação para as eleições de 2026 assiste ao espetáculo de segurança como tema-chave — e isso pode favorecer agendas autoritárias se não houver debate.

Próximos passos

O PL segue agora para o Senado, onde será relatado pelo Alessandro Vieira (MDB-SE). A casa Alta terá a tarefa de ajustar os destaques, negociar os termos e decidir se a lei será reforçada ou contida.

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