Com o vice-presidente do órgão apontado como próximo de quem foi preso na investigação de fraudes bilionárias, o presidente do INSS envia carta de exoneração para abrir caminho à apuração

O presidente do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), Gilberto Waller Júnior, encaminhou nesta semana carta formal solicitando a demissão de seu número 2 no órgão. O pedido ocorre em meio à intensificação da investigação da chamada Operação “Sem Desconto”, que mira esquemas de descontos indevidos em aposentadorias e pensões e levou à prisão do então titular da autarquia.

De acordo com reportagem da coluna de Tácio Lorran no portal Metrópoles, o dirigente considerado “número 2” da instituição teria mantido proximidade funcional com Alessandro Stefanutto — este último preso pela Polícia Federal no âmbito da investigação.

O pedido de demissão é apresentado como medida de “recomposição institucional” e “apoio irrestrito à apuração dos fatos”, segundo o documento interno obtido. O presidente do INSS argumenta que a saída do vice-presidente se faz necessária em função do “cargo estratégico” ocupado e da necessidade de manter lisura e transparência no processo.

Contexto da crise

A Operação Sem Desconto, deflagrada pela Polícia Federal e pela Controladoria-Geral da União, apura descontos associativos não autorizados — estimados em bilhões de reais — que atingiram beneficiários do INSS. Stefanutto foi preso acusado de receber propina mensal de cerca de R$ 250 mil em meio ao esquema.

A forte repercussão expôs a fragilidade da gestão do INSS, o nível de interferência política na autarquia e o risco de que aposentados e pensionistas sejam vítimas de uma máquina de extração financeira praticada por operadores privados em conluio com servidores.

Consequências e riscos

  • A demissão do vice-presidente surge como tentativa de limpar o organismo, mas não extingue as responsabilidades que estão em curso — gestores devem responder por falhas de governança e omissão.
  • A credibilidade do INSS, órgão central da proteção social no Brasil, fica sob ameaça. Quando a base de seguridade social é corroída, toda a noção de justiça social é atacada.
  • Para o campo progressista, o episódio acende o alerta: o Estado não pode tolerar aparatos que capturem benefícios públicos para fins privados. A lógica colonial de extrair valor de quem vulnerável se repete no setor previdenciário.
  • Há ainda o impacto político-eleitoral: a crise alimenta narrativa de que a política social é refém de esquemas de corrupção — o que favorece olhares conservadores e risco de privatização das tarefas do Estado.

O que vem a seguir

Será necessário aprofundar auditoria interna no INSS, participação da sociedade civil para garantir transparência, e urgência na reestruturação das diretrizes de proteção social. O governo federal e o presidente do INSS precisam acorrer com prioridade ao restabelecimento da confiança pública e dos direitos dos beneficiários.

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