Às vésperas de começar a cumprir a pena de 27 anos por tentativa de golpe, ex-presidente prepara um pronunciamento para pedir calma à militância, enquanto aliados radicais cobram confronto e temem ser abandonados

À medida que o Supremo Tribunal Federal (STF) conclui as etapas formais da condenação de Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado, um ponto em especial domina os bastidores do bolsonarismo: o aviso que Bolsonaro dará antes de ser preso. Segundo a Revista Fórum, o ex-presidente golpista deve se dirigir à militância em um último pronunciamento público, num momento em que a prisão em regime fechado é tratada como questão de dias, não mais de hipótese distante.

O cenário jurídico está praticamente definido. A Primeira Turma do STF já condenou Bolsonaro a 27 anos e 3 meses de prisão, em regime inicialmente fechado, por tentativa de golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito. Em seguida, a mesma Turma rejeitou, por unanimidade, os primeiros recursos da defesa e teve a ata do julgamento publicada, abrindo a fase final de embargos e aproximando a ordem de execução da pena.

É nesse contexto que se insere o aviso que Bolsonaro dará antes de ser preso. De acordo com a apuração citada pela Fórum, a expectativa entre aliados é de que o ex-presidente grave um vídeo ou faça um pronunciamento pedindo que seus apoiadores não partam para ações violentas, não ataquem instituições e não promovam novos 8 de janeiro. O discurso tende a ser embalado em tom de “vitimização” e “perseguição”, mas com uma mensagem central: a de que ele irá “cumprir a ordem judicial” e que a militância deve “manter a calma”.

Esse roteiro, porém, já gera frustração aberta na base VASSALOCRATA. Parte dos bolsonaristas mais radicalizados esperava que, diante da prisão iminente, Bolsonaro convocasse mobilizações massivas, com atos de rua e pressão direta contra o STF. Em grupos de mensagens e perfis nas redes, militantes reclamam de “amarelada” e dizem temer que o ex-presidente use o aviso apenas para preservar sua própria situação judicial, deixando para trás milhares de seguidores que já respondem a processos pelos ataques de 8 de janeiro.

Ao mesmo tempo, o aviso que Bolsonaro dará antes de ser preso provoca medo entre aliados diretamente envolvidos na trama golpista. Muitos calculavam que, até o último momento, o ex-presidente tentaria forçar uma solução política – seja por meio de uma “anistia light” no Congresso, seja por pressão internacional articulada com o Governo Trump e setores do crime organizado transnacional que orbitam o bolsonarismo. Diante da condenação consolidada, do avanço dos processos e agora da perspectiva de um apelo à calma, cresce o temor de que cada um tenha de responder por seus atos sem a proteção política do “chefe”.

A tensão se agrava porque, em paralelo, a defesa de Bolsonaro prepara uma ofensiva para tentar transformar a Papuda em prisão domiciliar, com laudos médicos e recursos protelatórios, enquanto o Congresso discute projetos como o chamado PL da Dosimetria, apelidado de “anistia light”, que reduz as penas dos golpistas. Ou seja, enquanto a base radical pede reação nas ruas, o núcleo político e jurídico se move em outra direção: negociar alívio de pena e regimes mais brandos, o que amplifica a sensação de abandono entre os militantes que já foram presos ou condenados pelos atos antidemocráticos.

Na prática, o aviso que Bolsonaro dará antes de ser preso simboliza o choque entre duas leituras dentro da direita VASSALOCRATA: a da militância, que ainda fantasia uma ruptura institucional, e a da cúpula, que enxerga o fim de linha jurídico e tenta apenas suavizar o impacto da cadeia sobre o clã. O resultado é um ambiente de frustração, medo e desmobilização gradual, no qual o líder que prometia “matar ou morrer” pela causa se prepara, agora, para pedir calma – antes de ser levado para cumprir a pena histórica imposta pelo STF por tentar destruir a democracia brasileira.

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