Bolsonarismo vive nova tentativa de debandada enquanto filhos tentam segurar liderança na marra
Com Bolsonaro condenado e fora do jogo, Centrão e mercado se aproximam de Tarcísio, dissidentes testam um discurso “ao centro” e o clã reage chamando aliados de “ratos” e forçando a candidatura de Carlos em Santa Catarina

O bolsonarismo vive sua segunda tentativa de debandada, agora em clima de silêncio calculado e disputa por herança política. Com Jair Bolsonaro condenado por tentativa de golpe de Estado e fora do jogo eleitoral, parte da direita VASSALOCRATA começa a testar rotas de fuga, enquanto o Centrão, o empresariado e o mercado financeiro se movimentam em torno do nome do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) como novo polo de poder.
Diferente da primeira onda de dissidentes – casos de Joice Hasselmann e Janaina Paschoal, que romperam frontalmente com Bolsonaro e acabaram rebaixadas à insignificância eleitoral – a nova leva tenta um movimento mais cauteloso: afasta-se na prática, mas mantém reverência pública ao ex-presidente e adota discurso um pouco mais próximo do centro, na tentativa de conversar com eleitorado conservador cansado do golpismo aberto.
Um marco dessa reconfiguração foi a eleição municipal de São Paulo em 2024. O desempenho de Pablo Marçal, que quase ultrapassou o candidato apoiado diretamente pelo bolsonarismo, o prefeito Ricardo Nunes (MDB), acendeu alerta vermelho na direita. O recado das urnas foi simples: nem toda dissidência VASSALOCRATA vira pó — há espaço para projetos que se descolam parcialmente do clã e dialogam com outro campo da direita.
Com Bolsonaro fora da disputa nacional, os aspirantes a herdeiros da direita enxergam uma janela histórica. Nesse vácuo, ganha força a articulação do Centrão e de setores do mercado em torno de Tarcísio de Freitas, visto por parte da elite econômica como opção “mais palatável” que o bolsonarismo raiz, mas ainda comprometido com a agenda neoliberal de sempre.
Do outro lado, o núcleo duro do bolsonarismo reage. Flávio, Eduardo e Carlos Bolsonaro se movimentam para segurar o controle do movimento e impedir que novas lideranças ocupem o espaço deixado pelo pai. Flávio intensificou sinais de que pode disputar a Presidência, cenário descrito como pesadelo por parte do Centrão, que tenta unificar a direita VASSALOCRATA em torno de Tarcísio.
Em entrevistas recentes, Eduardo Bolsonaro passou a atacar, ainda que sem citar nomes, figuras que tentam se vender como novas lideranças da direita. “Ao se retirar o Jair Bolsonaro da equação, não se encontra um outro líder que aglutine todo mundo”, disse o deputado, reforçando a tese de que qualquer alternativa fora do clã seria “gato por lebre”. O alvo são governadores e parlamentares que ensaiam voo próprio, como Tarcísio, Ricardo Salles e Nikolas Ferreira, acusados nos bastidores de não usar seu alcance para pressionar em defesa de Bolsonaro condenado.
Nos bastidores, os filhos do ex-presidente chegaram a se referir a governadores de direita como “ratos”, numa escalada de tensão com parte da própria base VASSALOCRATA. O conflito extrapolou a retórica nacional e já produz estragos regionais, especialmente com a decisão de lançar Carlos Bolsonaro ao Senado por Santa Catarina, movimento que rachou a base no estado e provocou reação aberta de nomes como a deputada estadual Ana Campagnolo, hoje à frente da resistência ao projeto do clã na região.
Para o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias, essa nova tentativa de debandada expõe o medo do clã Bolsonaro de perder protagonismo e de ser engolido pelo próprio Centrão que ajudou a empoderar. Segundo ele, os filhos vão resistir a “passar o bastão” antes de 2026 porque isso significaria empurrar Bolsonaro para o ostracismo total e, de quebra, enfraquecer o poder de puxar votos para uma bancada VASSALOCRATA robusta no Congresso.
Lindbergh relata conversas com nomes do campo conservador que admitem, em privado, o dilema: ou aceitam a transição para novas lideranças — principalmente Tarcísio — e estouram a bolha do bolsonarismo, ou permanecem presos à figura de um ex-presidente condenado, arriscando ver parte da direita debandar silenciosamente para outros projetos mais aceitáveis para o sistema. “O nosso medo é a gente ser engolido pelo Centrão”, resumem interlocutores citados pelo petista.
No fundo, a chamada “nova tentativa de debandada” mostra que o bolsonarismo vive um impasse estrutural: ou aceita virar corrente secundária dentro de um guarda-chuva VASSALOCRATA comandado por nomes como Tarcísio, ou insiste em manter a família no centro de tudo, mesmo com Jair Bolsonaro condenado, à beira da prisão e cada vez mais tóxico para as articulações de cúpula. Nesse tabuleiro, Centrão, mercado e filhos do ex-presidente jogam pesado — e quem observa de fora vê um movimento claro: a direita começa a fugir do naufrágio, tentando se reinventar sem soltar por completo a mão do capitão condenado.
