Às vésperas da prisão de Bolsonaro, Paulinho da Força aposta em “anistia light” ainda em 2025
Relator do chamado PL da Dosimetria diz já ter mais de 300 votos na Câmara para reduzir penas dos golpistas do 8 de janeiro, em pleno momento em que o STF publica a ata que deixa Jair Bolsonaro a um passo da Papuda.

Às vésperas de a prisão de Jair Bolsonaro se tornar uma realidade concreta, o deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), relator do projeto que trata da situação dos condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro, resolveu ir à imprensa para garantir que sua proposta – uma espécie de “anistia light” – será aprovada ainda em 2025. A declaração vem no exato momento em que o Supremo Tribunal Federal (STF) publicou a ata do julgamento que rejeitou, por unanimidade, os primeiros recursos do ex-presidente e de outros réus da trama golpista, oficializando a derrota da defesa e abrindo a etapa final antes da execução da pena..
Paulinho é o relator do texto que nasceu como PL da Anistia, mas foi rebatizado por ele mesmo como “PL da Dosimetria”, numa tentativa de vender a proposta como algo mais palatável à opinião pública e ao Congresso. Em vez de um perdão amplo aos golpistas, o deputado passou a defender um “meio-termo”: reduzir penas e flexibilizar o cumprimento das condenações, sem extinguir totalmente os crimes. A fórmula ficou conhecida, inclusive entre parlamentares, como “anistia light”, por manter o discurso de punição enquanto, na prática, corta anos de cadeia dos envolvidos.
Nos bastidores, Paulinho afirma que o projeto já conta com algo entre 330 e 350 votos na Câmara, bem acima dos 257 necessários para aprovação. Segundo reportagem recente, ele disse que o PL da Dosimetria deve ser votado e aprovado ainda neste ano, com impacto direto sobre a pena de Jair Bolsonaro: a condenação de 27 anos e 3 meses definida pelo STF cairia para menos de 20 anos, e o período em regime fechado poderia ser reduzido para algo entre dois e três anos. Ou seja, na prática, o que é vendido como “ajuste técnico” de pena funciona como um atalho para aliviar a situação do ex-presidente e de outros chefes da trama golpista.
Enquanto o STF aperta o cerco e publica a ata que rejeita os embargos da defesa, deixando Bolsonaro mais perto de uma ordem de prisão em regime fechado, o Centrão se move para construir uma saída política que amorteça o impacto das condenações. Reportagens sobre o PL da dosimetria mostram que Paulinho tenta empurrar sua versão como um “acordo pelo centro”, alegando que a proposta “avança pelo centro” e conquista apoio de partidos de centro e centro-direita, mesmo sob resistência do PT e até do próprio PL de Bolsonaro, que inicialmente pressionava por uma anistia mais ampla.
Do lado de fora do Congresso, a ideia de uma anistia disfarçada enfrenta forte rejeição. Entidades, movimentos sociais e especialistas em direito já alertaram que o PL da Dosimetria pode significar, na prática, um desmonte das decisões do STF, abrindo brecha para que a base bolsonarista e outros setores condenados por ataques à democracia recebam um “desconto político” nas penas. Mesmo assim, o texto segue em tramitação, sustentado por um discurso de “pacificação nacional” usado como cortina de fumaça para aliviar a situação de quem atentou contra o Estado Democrático de Direito.
O contraste é evidente: de um lado, o Supremo registra em ata a condenação de Jair Bolsonaro, consolidando o entendimento de que houve trama golpista e sinalizando que a prisão do ex-presidente é questão de rito processual; de outro, o relator do projeto na Câmara fala em “anistia light”, em “dosimetria” e em maioria já garantida para aprovar um texto que reabre a porta da impunidade para a velha elite golpista e seus aliados. Enquanto o STF cumpre seu papel constitucional, o Congresso se torna palco da disputa entre quem quer preservar a responsabilização histórica e quem trabalha, nos bastidores, para reduzir a conta de quem tentou derrubar a democracia em 8 de janeiro.
