Sem exercer o mandato no Rio, Carlos Bolsonaro adota a estratégia do irmão: lança suspeitas sem provas sobre tarifas dos EUA e cartas de Trump enquanto testa sua candidatura ao Senado por Santa Catarina

O vereador carioca Carlos Bolsonaro (PL-RJ) passou a repetir em Santa Catarina a mesma fórmula adotada pelo irmão Eduardo Bolsonaro (PL-SP): discursos inflamados, teorias conspiratórias, insinuações sobre política externa e tarifas dos Estados Unidos – tudo sem apresentação de provas ou documentos verificáveis. Reportagem do Diário do Centro do Mundo mostra que o filho de Jair Bolsonaro deixou na prática o cotidiano da Câmara do Rio de Janeiro para atuar quase em tempo integral nas redes e no tabuleiro eleitoral catarinense.

Nas últimas postagens, Carlos voltou a falar das tarifas impostas pelo Governo Trump contra o Brasil e a relacioná-las a uma suposta pressão para libertar Jair Bolsonaro e os presos pelos atos de 8 de janeiro. Em um dos “alertas”, ele menciona cartas de Trump ao Brasil, nas quais, segundo ele, o ex-presidente norte-americano teria pedido explicitamente a libertação de Bolsonaro e dos chamados “presos políticos” de 8 de janeiro. Até agora, não há qualquer comprovação pública da existência dessas cartas, nenhuma divulgação oficial e nenhum registro em canais diplomáticos.

O padrão se repete: Carlos lança suspeitas no ar, associa tarifas e decisões econômicas a chantagens políticas, acusa imprensa e adversários de mentir, mas não apresenta documentos, áudios, vídeos ou trechos auditáveis das supostas comunicações. As declarações servem mais para alimentar desconfiança e ruído dentro do debate público do que para esclarecer a posição real do Brasil nas negociações com o Governo Trump.

Ao mesmo tempo, o vereador passou a concentrar esforços em Santa Catarina, estado onde o bolsonarismo tenta construir palanque forte para 2026 e onde Carlos Bolsonaro é cotado para disputar o Senado. A atuação nas redes, com ataques e insinuações direcionadas a setores que nem sempre estão diretamente ligados ao tema, funciona como um teste de reação da base local, medindo impacto político para uma eventual candidatura. A estratégia ecoa a de Eduardo Bolsonaro, que vem usando o noticiário internacional e a narrativa da perseguição para reorganizar o campo bolsonarista.

O movimento acontece num contexto em que o PL de Santa Catarina vive crise interna pela formação da chapa ao Senado. Relatos da imprensa apontam resistência de lideranças regionais à entrada de Carlos na disputa, inclusive após a retirada da deputada Caroline de Toni do caminho, o que acentuou o mal-estar e a sensação de que o clã Bolsonaro tenta impor seu projeto ao diretório local.

A insistência de Carlos em repetir a tática de Eduardo – falar em liberdade, democracia e perseguição sem oferecer base factual – reforça a fase de disputa interna por protagonismo no bolsonarismo. Enquanto o vereador deixa pendentes suas obrigações no Rio, transforma o debate sobre tarifas e política externa em palanque pessoal e usa Santa Catarina como laboratório para sua ambição ao Senado. A dúvida que paira, como resume o próprio DCM, é até quando essa estratégia baseada em insinuações sem prova e conflito permanente conseguirá sustentar um projeto eleitoral viável.

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