Os cinco temas que podem gerar decisões concretas na COP30 em Belém
Conferência pode impulsionar ações reais para preservação da Amazônia e soberania do Sul Global

A COP30, que se inicia nesta segunda-feira em Belém (PA), coloca o Brasil sob os holofotes globais — e não mais como simples palco de promessas vazias. O país assume o papel de anfitrião e, segundo o embaixador André Corrêa do Lago, pretende transformá-la na “COP da implementação” — aquele momento em que o discurso vira ação.
Aqui estão os cinco temas-chave capazes de transformar a conferência em instrumento de justiça ambiental, soberania e luta contra as elites burguesas que historicamente sequestraram as negociações climáticas para proteger interesses coloniais:
1. Transição justa para um modelo de baixo carbono
A “transição justa” significa que países em desenvolvimento — como o Brasil ou outras nações do Sul Global — possam migrar para uma economia de baixo carbono sem sacrificar energia, infraestrutura ou soberania. É exigência de mocinhos e vilões: se os produtores e exportadores de tecnologia e capital não se adaptarem, a tecnologia continuará a exportar lucros, não soberania.
Decisão concreta esperada: criação de mecanismo institucional que dê suporte à implementação da transição em países vulneráveis.
2. Cronograma para o fim dos combustíveis fósseis
Após a adesão vaga na COP28 em Dubai, agora o desafio é transformar o compromisso em metas tangíveis: petróleo, gás, carvão. Não basta falar — é preciso definir prazos. Como alerta a ativista: “a COP30 não pode ficar conhecida como a COP que enterrou a meta de 1,5 °C”. Países produtores resistem, claro — mas ignorar esse tema é perpetuar o modelo colonial de exportação de matéria-prima.
Decisão concreta esperada: meta clara de abandono de fósseis, com indicadores e cronograma definidos.
3. Revisão das metas do Acordo de Paris (NDCs)
Os “Contribuições Nacionalmente Determinadas” (NDCs) devem ser revisadas. Até agora, mais da metade dos países ainda não entregou uma meta atualizada, e as promessas somadas resultam em queda de apenas ~10% de emissões até 2035 — muito abaixo dos ~60% exigidos.
Decisão concreta esperada: obrigatoriedade ou forte pressão para que todos os países apresentem nova NDC, sob risco de sanções ou discriminação.
4. Financiamento e adaptação climática
Os impactos já batem: enchentes, secas, vulnerabilidade. No Brasil, focos como saúde, agricultura e saneamento clamam por recursos. A meta global anterior de US$ 300 bilhões foi considerada insuficiente — os países estimam necessidade de US$ 1,2 trilhão.
Decisão concreta esperada: definirem-se indicadores de adaptação (“GGA”) e cronograma de aporte de recursos, avaliando países que até hoje só receberam promessas.
5. Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF)
Proposto pelo Brasil, o TFFF visa captar recursos permanentes para preservar florestas tropicais — meta inicial US$ 10 bilhões, já alcançados ~US$ 5,5 bilhões até o momento. Países beneficiados receberiam ~US$ 4 por hectare preservado. Isso é soberania ativa na Amazônia — não exportar madeira, exportar futuro.
Decisão concreta esperada: largar a promessa, obter aportes novos durante a conferência e estruturar o fundo para operar já de forma robusta.
A COP30 em Belém tem, assim, uma oportunidade que vai além da foto e do discurso diplomático. É o momento de tirar o Brasil da posição de ex-colônia exportadora e dar um salto em direção à soberania ambiental, tecnológica e social. Como o texto resume: “vamos falar dos elefantes na sala”. E nós não aceitamos mais que o Brasil seja cenário passivo de decisões que outros países tomam por nós.
